ELIO
GASPARI
Mercadante, o articulador do caos
A
extensão de seis para oito anos do curso de medicina penalizará quem ralou
pagando faculdade privada
Na
condição de articulador de iniciativas da doutora Dilma, o comissário Aloizio
Mercadante patrocinou três lances de gênio. A saber:
1) A
convocação de uma constituinte exclusiva para fazer uma reforma política. Durou
24 horas.
2) A
convocação de um plebiscito para que o eleitorado definisse os marcos da
reforma. Durou duas semanas.
3) Com
o copatrocínio do ministro Alexandre Padilha, da Saúde, propôs a reorganização
do ensino médico, aumentando-o de seis para oito anos.
Na
semana passada informou-se aqui que as burocracias do MEC e das universidades
federais faziam uma exigência maluca para médicos formados no exterior que
quisessem revalidar seus diplomas. Caso queira trabalhar no Brasil, um doutor
que se formou em Harvard e trabalha na clínica de Cleveland é obrigado a
atestar que mora em Pindorama, mesmo tendo nascido aqui. Sem isso não pode
pedir a revalidação, que demora até um ano. Até lá, vive de quê?
A
exigência será eliminada, tudo bem, mas havia coisa pior. O Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais, Inep, não sabe dizer quem pôs o jabuti na
forquilha do programa Revalida, muito menos por quê. Essa mesma condição é exigida
na rotina das revalidações de universidades federais. Puro obstáculo para
blindar o mercado. Produto da onipotência dos educatecas.
Agora
Mercadante e Padilha querem que os estudantes de medicina trabalhem no SUS por
dois anos. Novamente, trata-se de um exercício de onipotência.
Ele
se esconde atrás do argumento do aperfeiçoamento dos médicos. Trata-se de uma
lorota, pois o Brasil tem medicina há séculos e suas deficiências não derivam
da formação dos doutores, mas do desperdício de dinheiro público e da ganância
dos interesses privados, inclusive de médicos.
Imagine-se
dois estudantes. Aloizio é filho de um banqueiro, estudou em bons colégios e
entrou para uma das melhores faculdades de medicina. Como são todas públicas,
fará o curso sem desembolsar um tostão. Alexandre é filho de um bancário que
trabalha para o pai de Aloizio. Não teve boas escolas, mas foi aprovado numa
instituição privada. A família cacifou algo como R$ 300 mil, só em anuidades.
Seria
razoável que Aloizio devolvesse em serviços para o SUS os seis anos de
faculdade gratuita. Essa é uma antiga proposta de médicos do setor público. Alexandre,
contudo, precisa trabalhar para aliviar o orçamento do pai bancário. Tem 26
anos, estuda há dezoito e agora querem obrigá-lo a ir para um regime de
liberdade condicional trabalhando no SUS por mais dois, ganhando entre R$ 3 mil
e R$ 8 mil (só os mandarins de Brasília acham que essas duas quantias são
similares).
Se
os comissários fossem menos onipotentes, os dois anos de serviço ao SUS seriam
opcionais para quem estudou medicina em faculdade privada.
Quem
entende do assunto jura que essa iniciativa, que começaria a valer em 2015, terá
o mesmo destino que a constituinte e o plebiscito, pois é mais fácil mudar um
cemitério de lugar do que alterar os currículos das faculdades de medicina.
VEM
PRO CAPILÉ!
Por
mais que centrais sindicais apensas às verbas do Ministério do Trabalho
sustentem que suas manifestações movidas a mimos de até R$ 70 são espontâneas,
vale lembrar:
Em 1978,
quando despontou a figura de Lula, ele se opunha ao oficialismo sindical.
Naquela
época Nosso Guia dizia o seguinte, numa carta pública ao senador Petrônio
Portella:
"As
entidades sindicais nascem, se desenvolvem e desaparecem sob a tutela do Estado.
(...) Este estado de coisas decorre da filosofia que presidiu a criação dos
sindicatos no Brasil. Fiéis a esta filosofia, os legisladores atrelam as
entidades sindicais ao governo, antes de tudo, como órgãos de colaboração. Deles
dependente para nascer, viver e morrer, o sindicalismo brasileiro, por tradição
histórica, sempre aderiu ao governo e regimes vigentes para garantir sobrevivência."
Hoje
a chave do cofre está no bolso do PT. Em 2012, os trabalhadores pagaram R$ 2
bilhões de imposto sindical e as centrais embolsaram 10%. Desatrelamento? Nem
pensar.
BONNIE
& CLYDE
É implicância
falar dos helicópteros do governador Sérgio Cabral. Coisa de pobre.
Michael
Bloomberg, o prefeito de Nova York, adora seu Agusta SPA A109S de US$ 4,5 milhões.
Não se sabe se ele já levou para sua casa de verão Bonnie e Clyde, os
labradores da namorada.
Cabral
e seu cachorro Juquinha voam para Mangaratiba num Agusta AW109 que custou US$ 7,5
milhões.
Diferença:
Bloomberg pagou o brinquedo com o próprio bolso.
HADDAD
PRECISA DAS LIÇÕES DE CARLOS LACERDA
O
prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, poderia estudar as administrações de
governantes que pensaram nas cidades que governaram. Gente como Jaime Lerner em
Curitiba e Carlos Lacerda, no Rio. Depois de lutar como um gladiador na defesa
da tarifa de ônibus de R$ 3,20, argumentado que sua redução para R$ 3 custaria à
prefeitura R$ 175 milhões por ano, abriu duas concorrências para a reforma do
autódromo de Interlagos. Preço? R$ 161 milhões.
Interlagos
só pode ser visto como autódromo por pessoas incapazes de perceber que aquilo não
é uma pista de corrida, mas uma área pública, com 1,5 milhão de metros
quadrados, pouco menor que o aterro do Flamengo, no Rio. Só a demofobia explica
que não seja um parque aberto à população.
Há ali
toda uma infraestrutura para as corridas, mas no aterro, bem como no parque
Ibirapuera, há museus, restaurantes e uma marina. Suas áreas livres servem aos
contribuintes, para glória das cidades. Quando a prefeitura quer, Interlagos
vira área pública. Lá o padre Marcelo Rossi celebrou uma das maiores missas já realizadas
no país. No mais, é uma donataria mecânica.
Neste
ano estão programados uns vinte eventos, todos motorizados, inclusive a corrida
do Porsche Club (22 e 24 de novembro). Nos dias vagos, nada. Evento sem rodas
listado pela SP Turismo, nenhum. Nas últimas décadas, as sucessivas reformas de
Interlagos já custaram à Viúva mais de US$ 100 milhões, mas as atividades para
bípedes são ralas. Não existe autódromo de Fórmula 1 dentro da malha urbana de
uma cidade sem que haja ali um parque. O de Monza convive com as pistas.
Virá
o dia em que um prefeito de São Paulo olhará para Interlagos e dirá que ali
erguerá um parque. Ele será lembrado como Lacerda com o aterro e Lerner com os
calçadões. Até os anos 50 os governantes de São Paulo incomodavam-se com um
alagadiço que os índios denominavam de "pau podre". Um dia o
governador Lucas Garcez chamou Oscar Niemeyer e fizeram o parque Ibirapuera.
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