09
de julho de 2013 | N° 17486
CLÁUDIO
MORENO
Fama a qualquer
preço
Os
gregos levavam tão a sério a beleza e a arte que o nome de seus arquitetos e
escultores tem sobrevivido aos milênios. Pausânias, certamente o tataravô de
nossos guias de viagem, descreve dezenas de templos e monumentos artísticos que
embelezavam a Grécia antiga; segundo ele, a uma pequena distância das portas de
Atenas, via-se um túmulo sobre o qual haviam posto uma escultura representando
um guerreiro em pé, junto a seu cavalo. “Não sei nada sobre ele”, diz Pausânias
– e acrescenta, respeitosamente: “mas o homem e o cavalo são obra de
Praxíteles”.
O
templo de Diana, em Éfeso, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, não foi
obra de um arquiteto só, pois levou duzentos e vinte anos para ser construído,
financiado espontaneamente pelo tesouro de vários reis e pela contribuição de
cidades inteiras. Com uma área semelhante à de nossos modernos estádios, tinha
o imenso telhado sustentado por mais de cem colunas de vinte metros de altura.
Era
tão magnífico que Xerxes, ao passar por lá à frente do exército persa, não
permitiu que sofresse dano algum, rendendo assim sua homenagem à beleza e à
força da criatividade humana.
Este
templo, porém, logo se tornaria vítima de uma das cenas mais famosas do
ressentimento: Eróstrato, um jovem e obscuro efesiano, irresignado com sua
irrelevância, revoltado por constatar que ninguém haveria de escrever sua
biografia – e por que o fariam, se não tinha nada por onde merecê-lo? –,
decidiu que, se não poderia entrar na História por suas virtudes, tornar-se-ia
famoso pelo mal que podia praticar. Assim, sem remorso algum, aproveitando a
escuridão da noite, provocou um incêndio que destruiu completamente aquela
maravilha que nem sequer conseguia compreender.
Preso,
confessou, com a frieza dos maníacos, que sua única intenção era atingir a
celebridade com que sonhava e que lhe parecia difícil de alcançar por outros
meios. Os cidadãos de Éfeso, chocados com aquela selvageria, temendo que aquele
exemplo nefasto encontrasse seguidores, aprovaram um decreto que condenava à
morte quem quer que pronunciasse o nome do incendiário. Como se vê, foi uma
tentativa vã; ele acabou conquistando sua triste fama, pois passou à
posteridade como aquele que deveria ser esquecido...
Um
cínico francês definiu Eróstrato como “aquele sujeito que queimou o templo de
Diana para entrar na Enciclopédia Britânica”. Um cínico brasileiro, ao ver que
tornou-se moda apedrejar catedrais, queimar veículos, emporcalhar prédios
públicos e depredar praças e monumentos, diria que os medíocres e desajustados
redescobriram o caminho fácil para chegar à fama instantânea e insignificante –
nem que seja no Facebook.
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