26
de julho de 2013 | N° 17503
DAVID
COIMBRA
O tempo passa, o tempo voa
Há 25
séculos Heráclito, “o obscuro”, dizia que um homem não pode se banhar duas
vezes no mesmo rio. “Tudo flui”, ensinava. E há 25 anos algum gênio da
publicidade dizia que o tempo passa, o tempo voa, e a Poupança Bamerindus
continua numa boa.
Duas
ponderações sobre a transitoriedade da vida. Heráclito afirmava que o mundo está
mudando sempre e que nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. O
publicitário concordava, com uma ressalva: menos a Poupança Bamerindus.
A
Poupança Bamerindus era uma garantia contra a efemeridade da vida. Tudo o que
se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo, tudo muda o tempo todo no
mundo, com exceção da Poupança Bamerindus, essa instituição sólida, imutável,
eterna.
O
tempo passou, o tempo voou, e o que ficou provado? Que Heráclito tinha razão. O
Bamerindus extinguiu-se, como o pássaro Dodô, e sua poupança não continuou numa
boa. Só que o publicitário, mesmo errado, era de fato genial, tanto que até hoje
lembro do bordão criado por ele.
O
que ficou do Bamerindus, do jingle e de Heráclito é que eles aparentemente
passaram, mas não. Eles fazem parte de mim, da carga de memórias deixada pelo
meu passado. E de outras tantas pessoas também. Eis o busílis. O passado
existe; o futuro, não. Os sensatos aconselham: “Pense no futuro”. O futuro é o
tempo dos sensatos. Mas o futuro é uma abstração. Você fica esperando pelo
futuro, e ele não chega jamais. Nunca alguém algum dia disse: “Agora, que estou
vivendo no futuro, estou bem”. Nunca.
Nunca
alguém viveu no futuro. No passado, sim. Todas as pessoas do mundo viveram no
passado. Você agora, no presente, está vivendo do que foi o seu passado. Está sentado
sobre ele. O passado é o cimento do seu presente.
A
cada dia você constrói o seu passado. O que você está fazendo agora, da maneira
como está fazendo, servirá mais tarde como referência. Os outros, quando
olharem para você, vão olhar para o seu passado. Para o que significou o seu
passado. E você mesmo, ao planejar o que vai fazer e como vai fazer, terá como
medida o seu passado.
Faça
as coisas benfeitas, portanto, e construa agora um passado glorioso para você. Mesmo
que você queira mudar. Porque qualquer mudança, por radical que seja, é baseada
em algo que existe concretamente, e só o passado existe concretamente.
Logo,
não vou pensar no futuro intangível e inatingível. Vou me alegrar agora com o
que tenho agora. Vou sorver a vida neste exato momento. Vou recorrer a outro
pedaço do meu passado, formado por uma frase do poeta Horácio, “o orelhudo”,
que viveu 500 anos depois de Heráclito e 2 mil anos antes do publicitário do
Bamerindus: “Carpe Diem”, ele disse.
Aproveite
o dia. É o que temos de fazer, eu e você. Vamos aproveitar esse dia, porque ele
vai ser depositado na conta do nosso passado. Nós ainda vamos nos lembrar desse
dia, amanhã.
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