FELIPE
BÄCHTOLD ENVIADO ESPECIAL A QUARAÍ (RS)
Hospital de cidade de fronteira
sobrevive com médico uruguaio
Contratação
de estrangeiros sem diploma válido no Brasil foi decidida pela Justiça para
suprir a falta de profissionais. Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do
Sul se opõe à medida e fala em exercício ilegal da profissão
Enquanto
o governo federal compra briga com a classe médica --devido ao plano de
flexibilizar a contratação de estrangeiros--, cidades gaúchas na fronteira com
o Uruguai enfrentam a falta de profissionais de saúde contratando médicos do país
vizinho sem diploma revalidado.
Municípios
e hospitais ganharam na Justiça o direito de contar com médicos uruguaios e
dependem deles para formar equipes mínimas.
Em
Quaraí, cidade de 23 mil habitantes, a maioria dos 20 médicos do Hospital de
Caridade, o único do município, é do país vizinho. O hospital tem há anos vagas
abertas para diversas especialidades.
Com
salários na faixa dos R$ 7.000, não consegue atrair profissionais de grandes
centros do Rio Grande do Sul.
Assim
como Quaraí, outras quatro cidades da fronteira que apelaram para a alternativa
e tiveram aval da Justiça são pouco populosas, sem faculdades de medicina por
perto e com orçamento limitado.
Um
perfil muito próximo dos municípios que o governo pretende beneficiar com a
contratação de médicos estrangeiros --projeto que virou bandeira da presidente
Dilma Rousseff na saúde após as manifestações de junho.
EXERCÍCIO
ILEGAL
O
Conselho Regional de Medicina do RS, no entanto, se opõe à contratação de
uruguaios sem registro e fala em exercício ilegal da profissão.
Hoje,
para que um médico estrangeiro atue no Brasil, ele precisa ser aprovado no
Revalida, considerado difícil.
Mas
o CRM vem sofrendo derrotas. O hospital de Quaraí, mantido por fundação filantrópica
e com atendimento voltado ao SUS, já ganhou em segunda instância o direito de
contar com os uruguaios.
Um
argumento considerado pela Justiça é um acordo entre Brasil e Uruguai para
atendimento de saúde na fronteira. O texto não especifica o tema da contratação
de médicos estrangeiros, mas, na interpretação dos juízes, autoriza o trabalho
no Brasil sem revalidação do diploma.
Em 2011,
o juiz federal Belmiro Krieger afirmou em decisão que não se tratava de
escolher entre brasileiros e uruguaios, mas "entre o médico uruguaio ou
nenhum."
Quaraí
é ligada por uma ponte ao município uruguaio de Artigas, onde moram 40 mil
pessoas. As cidades brasileiras mais próximas ficam a cerca de 100 km dali.
A
diretora do Caridade, Daniele Garcia, diz que, se não fossem os uruguaios, o
hospital iria "fechar as portas".
O
hospital faz cerca de 2.000 atendimentos por mês. Sofreu intervenção da
prefeitura neste ano e tem dívidas de R$ 10 milhões. Nos últimos anos, se
inscreveu em um plano federal que visava atrair médicos ao interior, mas não
houve interessados.
CONTRATEMPOS
A
contratação dos uruguaios gera contratempos. Os gestores não conseguem pagar
esses profissionais com repasses do Ministério da Saúde, já que eles não são
reconhecidos. O dinheiro sai do caixa único da prefeitura.
"Atrapalha
demais [as finanças]. Poderia fazer obras, mas passa para a folha de pagamento",
diz o prefeito Ricardo Gadret (PTB).
Outro
problema é que farmácias não aceitam receitas prescritas pelos uruguaios.
"Quando
é preciso um remédio que não está na Secretaria da Saúde, pedimos que algum médico
brasileiro valide a receita", diz o médico uruguaio Santiago de León, 27,
que começou a fazer plantões em Quaraí neste ano.
Clínico
geral formado em Montevidéu em 2012, ele diz que revalidar o diploma não é sua
prioridade, devido à demora e porque já estuda para provas de residência médica.
Para
o médico, além da remuneração no nível da oferecida em seu país, o interesse
dos uruguaios pelo trabalho na fronteira também se explica pela demografia. O
Uruguai não tem grandes municípios além de Montevidéu.
Então
ai quando se consegue os médicos estrangeiros, a Prefeitura não consegue pagá-los
porque o Ministério da Saúde não autoriza, tampouco as farmácias aceitam as
receitas, porque o Ministério não as reconhece. Mas e o Ministro para que serve...?
Mera figura decorativa lá no Ministério..?
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