24
de julho de 2013 | N° 17501
ARTIGOS
- Jairo Jorge*
Política e esperança
Nas
ruas das cidades brasileiras uma multidão busca seu espaço e direitos. Jovens
que acreditam no Brasil desejam ser construtores da nação e não meros
espectadores. As pessoas buscam ser respeitadas e ouvidas, um movimento polifônico
composto de dezenas de milhares de vozes entoando reivindicações, protestos e
utopias.
A crítica
não é contra alguém, mas é contra todos, é contra a ordem e ao mesmo tempo por
uma nova ordem, não há um líder, mas uma rede, uma revolta contra o descaso, a
massificação, a corrupção, a carestia, o desperdício, a impunidade e o aumento
da passagem. É cada coisa fragmentada e todas as coisas ao mesmo tempo. São
sentimentos diversificados e generosos, compartilhados de forma solidária pela
maioria, que, de forma pacífica, expressa sua inquietude.
Os
caras-pintadas do século 21 saem às ruas com milhares de cartazes de paz e
esperança. Em plena era digital, as mensagens escritas à mão, expressam a
pluralidade de demandas, críticas e propostas, um mosaico feito por milhões de
novos sujeitos.
Há perplexidade
e incompreensão por parte de muitos. Enganam-se aqueles que veem as manifestações
como resultado da ação de grupos organizados, que apesar de estarem presentes,
são apenas parte do elenco e não os atores principais. Não há base real para
teorias conspiratórias, os jovens não são uma massa amorfa e influenciável,
eles querem mudança, ética, resultados e diálogo.
As
manifestações são um alerta contra a falta de qualidade dos serviços públicos,
a piora sensível do padrão de vida nas metrópoles e o impacto no consumo das
famílias. O Brasil vive hoje os dilemas do crescimento, mesmo com os esforços
feitos nos últimos 10 anos pelos governos do PT com Lula e Dilma e de estarmos
neste momento de crise numa posição favorável comparando com a realidade dos países
desenvolvidos, ainda há muito que avançar.
Como
legado da revolução democrática e social que está em curso no país na última década
e da estabilização da economia e da moeda iniciada há 20 anos, assistimos à emergência
de uma nova classe média, mais crítica e participativa, que quer mais e melhor.
Essas pessoas saíram às ruas exigindo soluções dos governos, cansadas da
indiferença aos problemas e da lentidão nas respostas marcadas pela política
tradicional. Não é uma crítica a um governo, mas a todos que governam, essa é a
grande lição que precisamos aprender com humildade.
As
manifestações sacudiram o Brasil e suas instituições. A geração, que nos anos 80
enfrentou a ditadura, viu seus filhos não fugirem à luta, os jovens ocuparam as
ruas e produziram o maior avanço institucional desde a Constituinte. Estamos
diante de uma mudança paradigmática.
*JORNALISTA,
PREFEITO DE CANOAS
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