ENVIADO
ESPECIAL A BELLA UNIÓN - URUGUAI
Sem médicos perto, mães da fronteira dão
à luz no Uruguai
Moradoras
de Barra do Quaraí, no interior gaúcho, se queixam da distância de hospital
brasileiro e das filas
Município
não tem maternidade e enfrenta dificuldades para atrair profissionais; registro
de bebês é alvo de ação
As
longas distâncias e a falta de estrutura de saúde fazem moradoras de Barra do
Quaraí (RS), cidade vizinha à Bella Unión, no Uruguai, atravessarem a fronteira
para dar à luz fora do país.
Só no
ano passado, segundo o hospital do município uruguaio, foram sete partos de
filhos de mães brasileiras do outro lado da fronteira. De acordo com a
Prefeitura de Barra do Quaraí, há uma média de dez nascimentos por ano no país
vizinho.
Com 4.000
habitantes, Barra do Quaraí não tem maternidade e está a 75 quilômetros do
hospital brasileiro mais próximo, em Uruguaiana. O município de fronteira também
enfrenta dificuldades para atrair médicos, problema comum no interior e motivo
da polêmica recente entre o governo federal e a classe médica.
Com
o novo programa Mais Médicos, o governo abriu a possibilidade de contratar
profissionais estrangeiros em áreas com carência de médicos, sem a exigência de
revalidação do diploma.
A
dona de casa Fernanda Xavier, 30, teve seus dois filhos no hospital de Bella
Unión. Em 2004, nasceu Vitória. Preocupada com a possibilidade de não conseguir
registrar a filha no Brasil, Fernanda disse à época ao cartório que havia
parido em casa, com uma parteira. Conseguiu a documentação.
Com
o filho João Vitor, há um ano, a situação foi diferente: a dona de casa
aguentou as dores até o último momento, de madrugada, para poder ser levada
para o lado uruguaio. Se seu caso não fosse uma emergência, ela seria
transferida para Uruguaiana, onde tinha receio de enfrentar lotação.
"[No
Uruguai] Tinha um quarto só para mim, banheiro, televisão, caminha para o bebê.
O doutor deu risada e disse: Às vezes, as mães fazem loucura'."
A
unidade uruguaia conquistou boa fama entre moradores do lado brasileiro, que
hoje preferem o atendimento no país vizinho.
Em
maio, a vizinha de Fernanda, Lourdes Rodrigues, 17, também deu à luz o filho no
lado uruguaio. "Fui lá para fazer ecografia [ultrassonografia] e o doutor
disse que já estava pronto para nascer, só que eu não tinha dores. Eles
atenderam muito bem."
A estrutura
do hospital público de fora impressiona diante do tamanho de Bella Unión, de
apenas 15 mil habitantes. O local atende diversas especialidades.
SEM
CIDADANIA
Após
relatos de dificuldades para registro de crianças brasileiras nascidas no
Uruguai, o Ministério Público Federal foi à Justiça.
Entrou
com ação em 2005 para obrigar a direção do cartório local à época a conceder a
documentação completa a mães que apresentassem apenas o certificado de "nascido
vivo" do hospital uruguaio. Ganhou a causa e o cartório mudou seus
procedimentos.
Hoje,
os registros de bebês brasileiros nascidos no Uruguai vão para o livro do cartório
de Barra do Quaraí com observação que cita o direito de registro no Brasil por
decisão judicial.
"Diante
das dificuldades, já sugerimos à prefeitura que contratasse um obstetra para
fazer parto a domicílio com assistência médica", afirma o responsável pelo
cartório, João Machado.
FELIPE
BÄCHTOLD
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