domingo, 14 de julho de 2013

ELIANE CANTANHÊDE

O pior inimigo

BRASÍLIA - Políticos e marqueteiros quebram a cabeça para transformar as derrotas da presidente Dilma em vitórias, mirando um prazo específico: o final deste ano, início do próximo. Hoje, a 15 meses da eleição, Dilma até pode despencar nas pesquisas e ficar na berlinda. Mas ela tem de entrar em 2014 demonstrando força e real chance de vencer.

Enquanto o Congresso volta à vidinha de sempre, com o ônus do enterro da constituinte exclusiva, em 24 horas, e do plebiscito, em menos de duas semanas, Dilma tenta ficar com os louros de ter oferecido uma resposta às reivindicações populares.

Enquanto médicos esperneiam contra os vetos ao Ato Médico, o serviço obrigatório dos formandos e a importação de estrangeiros, Dilma contabiliza o apoio da população por ter enfrentado o corporativismo para garantir mais atendimento.

Enquanto as centrais sindicais vão às ruas, divididas entre ser a favor ou contra o governo e cheias de dúvidas sobre sua capacidade de mobilização, Dilma elogia olimpicamente o direito à manifestação, mas condena o bloqueio das estradas. Quem haveria de discordar?

Enquanto o circo pega fogo, não militantes vão às ruas, prefeitos vaiam e as centrais tentam recuperar a força e o tempo perdidos, Dilma vira as baterias para os EUA, por causa da espionagem, e para os europeus, por terem vetado o sobrevoo do avião do presidente da Bolívia, Evo Morales. Pega bem.

Esses contrastes são milimetricamente estudados e se sustentam sobre um dado poderoso: a imagem administrativa de Dilma esfarela, mas a imagem pessoal ainda é a de uma presidente séria, honesta, bem-intencionada. Eis uma boa alavanca para a retomada. E tome exposição!


Tudo muito bom, tudo muito bem, só falta combinar com o maior "adversário": o desempenho do governo. A política vai muito mal, a economia vai pior. E não dá para enxergar nenhuma luz no fim do túnel --nem no final deste ano, início do próximo.

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