ELIANE
CANTANHÊDE
O pior inimigo
BRASÍLIA
- Políticos e marqueteiros quebram a cabeça para transformar as derrotas da
presidente Dilma em vitórias, mirando um prazo específico: o final deste ano,
início do próximo. Hoje, a 15 meses da eleição, Dilma até pode despencar nas
pesquisas e ficar na berlinda. Mas ela tem de entrar em 2014 demonstrando força
e real chance de vencer.
Enquanto
o Congresso volta à vidinha de sempre, com o ônus do enterro da constituinte
exclusiva, em 24 horas, e do plebiscito, em menos de duas semanas, Dilma tenta
ficar com os louros de ter oferecido uma resposta às reivindicações populares.
Enquanto
médicos esperneiam contra os vetos ao Ato Médico, o serviço obrigatório dos
formandos e a importação de estrangeiros, Dilma contabiliza o apoio da
população por ter enfrentado o corporativismo para garantir mais atendimento.
Enquanto
as centrais sindicais vão às ruas, divididas entre ser a favor ou contra o
governo e cheias de dúvidas sobre sua capacidade de mobilização, Dilma elogia
olimpicamente o direito à manifestação, mas condena o bloqueio das estradas.
Quem haveria de discordar?
Enquanto
o circo pega fogo, não militantes vão às ruas, prefeitos vaiam e as centrais
tentam recuperar a força e o tempo perdidos, Dilma vira as baterias para os
EUA, por causa da espionagem, e para os europeus, por terem vetado o sobrevoo
do avião do presidente da Bolívia, Evo Morales. Pega bem.
Esses
contrastes são milimetricamente estudados e se sustentam sobre um dado
poderoso: a imagem administrativa de Dilma esfarela, mas a imagem pessoal ainda
é a de uma presidente séria, honesta, bem-intencionada. Eis uma boa alavanca
para a retomada. E tome exposição!
Tudo
muito bom, tudo muito bem, só falta combinar com o maior
"adversário": o desempenho do governo. A política vai muito mal, a
economia vai pior. E não dá para enxergar nenhuma luz no fim do túnel --nem no
final deste ano, início do próximo.
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