16
de julho de 2013 | N° 17493
DAVID
COIMBRA
Um dia inteiro na
cama
Vou
passar um dia inteiro na cama, um dia desses. Não por doença, que por doença
não tem graça. Por preguiça. Por opção. É uma das metas da minha vida. Tem de
ser um dia de inverno frigidíssimo, de preferência com chuva deitada e vento
assoviante. E não pode ser feriado. Tem de ser dia útil, as pessoas esperando
que eu saia de casa para produzir conteúdo.
Mas,
não. Nesse dia não produzirei conteúdo.
Ficarei
até a noite sentindo o calor reconfortante dos cobertores, a cabeça deitada no
travesseiro, sorrindo, satisfeito. Quando o dia terminar, aí sim levantarei e
tomarei um banho quente, muito quente, de 45 minutos, cantando diga lá meu
coração da alegria de rever essa menina. Depois, vou me repimpar com uma massa
com molho vermelho e uma garrafa de tinto e vou sentar à frente da TV e ver
filme até a última curva da madrugada, filme policial, é claro, um bom filme
policial americano.
Pronto.
Realizado mais um objetivo de vida.
Parcos prazeres
Sou
um homem simples. Prazeres simples me satisfazem. Um bom livro, um bom filme,
um bom jantar. A companhia dos amigos e da mulher amada. O sorriso do meu
filho.
O
que mais um homem pode querer? Já sei.
Sei
o que mais um homem pode querer: as delícias da memória. Uma das maiores
satisfações de um homem é repassar o passado. Porque, na verdade, o passado é o mais importante.
As
pessoas gostam de imaginar o futuro, mas o futuro só pode ser imaginado com
base no passado. Mesmo que você queria ter um futuro completamente diferente do
que é o seu presente hoje e do que foi o seu passado ontem, essa diferença é
baseada no que existe e no que existiu. O futuro é sempre construído em relação
ao passado.
Logo,
o passado é o que importa. Além disso, o futuro jamais existirá. Você nunca
vive no futuro; você vive no presente. O futuro está sempre por vir, e não
chega nunca. Por isso, recordar é viver.
O melhor de
todos
Recordar
é um dos prazeres do homem. E o futebol tem uma função importante, nesse prazer
de recordar. O futebol nos oferece referências. Muitas das ocorrências importantes
da vida são demarcadas por grandes partidas de futebol. Ou grandes jogadores de
futebol.
Roberto
Rivellino foi o primeiro astro da minha vida futebolística, e ainda hoje
ninguém o superou. Lembro de jogadas inverossímeis de Rivellino, de partidas de
sonho, ele com a 10, Zico com a 8. Como aquela Seleção não foi campeã do mundo?
Lembro
de mim mesmo na inocência daquele tempo, vendo Rivellino jogar. Como é que toda
gente não sabe que Rivellino foi o melhor de todos?
Meus
amigos dizem que, quando afirmo isso, sou vitimado pelos truques da memória.
Naquele tempo, tudo era mágico, então o jogo de Rivellino também se tornou
mágico. Só que conto com um auxílio luxuoso. Maradona. O melhor jogador da
Argentina de todos os tempos disse que seu ídolo é Rivellino. E, se você
continuar teimando, arremato com um que só viu Rivellino jogar em filme, um que
está jogando ainda e que é o melhor gaúcho que algum dia já amarrou uma
chuteira: Ronaldinho.
Ronaldinho,
que está prestes a se inscrever como maior herói em cem anos de história do
Atlético Mineiro, Ronaldinho disse que queria ser um Rivellino com o pé
direito. Se for campeão da Libertadores, fará história, se tornará referência e
alguém, algum dia, no futuro, recordará e dirá: ele foi um Rivellino. Ele foi.
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