sábado, 27 de julho de 2013


28 de julho de 2013 | N° 17505
PAULO SANT’ANA

Nosso maior poeta

Eu me gabo indevidamente de ser conhecedor da obra de Lupicínio Rodrigues.

Na verdade, constatei agora que não sei quase nada sobre a obra daquele que pode ser considerado o maior poeta popular gaúcho de todos os tempos.

Fui constatar isso agora, quando ouvi quatro CDs de composições de Lupicínio, dezenas e dezenas de músicas e letras de autoria exclusiva dele.

Bateram nos meus ouvidos músicas que eu conhecia, mas que não sabia que eram de Lupicínio.

Fiquei chocado tanto com minha ignorância quanto com a prolificidade do poeta.

Não sei de onde ele tirou tanta inspiração para falar de amor. Chega até a ser transmitida a ideia de que Lupicínio era um conquistador de grande número de mulheres, quando, na verdade, foram quatro ou cinco somente as musas que o inspiraram.

É que ele potencializava tanto os seus casos de amor, que acabaram jorrando em suas letras as brigas que tinha com suas namoradas.

O ciúme foi fulcro da poesia de Lupicínio. Ele demonstra em toda a sua obra o medo terrível de que a sua namorada o estivesse traindo. Fez do ciúme a sua obsessão.

Demonstra, como em todo o ciúme, o medo de perder a amada. Mas não é só medo de perdê-la que o atormenta. O que mais fazia com que ele sofresse era o medo de perder a sua amada para outro, bem simbolizado no célebre samba Nervos de Aço: “E depois encontrá-la em um braço/ que nem um pedaço do meu pode ser”.

Também espanta em Lupicínio a capacidade que ele teve para atrair o interesse dos maiores cantores e cantoras brasileiras para gravar suas músicas, desde que se conhece o fato de que nunca se afastou de Porto Alegre e as gravadoras eram somente centradas no Rio de Janeiro.

Não se sabe se ele levava a música para os intérpretes até a então capital brasileira ou se os cantores ou cantoras o procuravam para conhecer a sua criação.

E depois que Lupicínio morreu, em razão da repercussão estrondosa que tiveram suas músicas de dor de cotovelo, os maiores nomes da música popular brasileira, entre eles Elis Regina, Caetano Veloso e Paulinho da Viola, gravaram suas composições.

São cerca de 300 músicas de Lupicínio que foram gravadas.

Talvez ele tenha sido igualado em quantidade e qualidade de sua obra somente a Noel Rosa, Herivelto Martins e Chico Buarque de Holanda.

Nunca se viu tanta coisa boa em tal número. Por isso é que nós, gaúchos, temos tanto motivo para venerar Lupi, afinal ele conquistou o Brasil com seu estro.

E tudo isso recolhido aqui no extremo do Brasil.


Foi uma façanha magistral.

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