sábado, 1 de setembro de 2012



02 de setembro de 2012 | N° 17180QUASE PERFEITO |
Cínthya Verri

Casamento aberto dá certo?

“Durante 13 anos fui monogâmica, mas com muitas escapadas do marido. Agora, ele veio com a receita ideal: o casamento aberto. Até gosto de me sentir desejada por outros homens e consegui encontrar prazer, mas ao mesmo tempo morro de ciúmes dele com outras mulheres. Isso pode dar certo? Carinho, Maria.

Querida Maria,

O problema do casamento aberto é que ele logo se torna escancarado.

Casamento aberto é uma invenção de quem já traía.

Casamento aberto é uma fachada de lavagem de dinheiro.

Casamento aberto é colorir a amizade e desbotar o amor.

Casamento aberto é uma forma intelectual de acumular mulheres.

Casamento aberto é agência para recrutar nova esposa.

Casamento aberto é dividir os méritos, mas não dividir as dívidas.

Casamento aberto é substituir a sinceridade pela bajulação.

Casamento aberto é o conforto para os indecisos e os mornos.

Casamento aberto é quando o ciúme é menor do que a realidade.

Casamento aberto é se sentir desejada por todos os homens, menos por aquele que você deseja.

Casamento aberto é a receita ideal para uma vida de solteiro.

Casamento aberto é menosprezar a dependência dos hábitos.

Casamento aberto é concurso de sósias.

Casamento aberto é falsificar o pecado original.

Casamento aberto é apagar até a possibilidade de trair.

Casamento aberto é transar no divã.

Casamento aberto é admirar a sogra mais do que a esposa.

Casamento aberto é fazer discussão de relacionamento com amantes.

Casamento aberto é perder o privilégio da vigília, de alguém acordado por você reclamando que é tarde demais.

Casamento aberto é ter o sonho assaltado toda semana.

Casamento aberto é transformar o sexo oposto em sexo aposto: casamento, aberto.

Casamento aberto é anular a cobrança e a crítica que você possa receber: é a impunidade amorosa.

Casamento aberto é trocar as portas pelas cercas, é trocar os cabelos pelos chifres, é trocar a confiança pelo medo.

Casamento aberto é para quem não tem coragem nem de se casar muito menos de se separar.

Abraço com toda ternura,

Fabrício Carpinejar

Querida Maria,

Existem casais com casas separadas; com ou sem filhos; do mesmo sexo; com gatos e cachorros. Tantos casais além da imaginação. Qualquer tipo de união pode dar certo. Estima-se que em torno de um terço dos casamentos é firme e prolongado.

Simone de Beauvoir encarnou o papel de feminista forte e inteligente. Ficou famosa quando escreveu que o casamento era imoral - o horror de tomar uma decisão definitiva que envolvesse não só o eu de hoje, mas também o eu do futuro.

Vivia com Jean-Paul Sartre, um pensador que defendia a individualidade e a liberdade. Um homem que se relacionava “livremente”, com muitas mulheres, talvez mais para comprovar sua tese do que por necessidade amorosa. Simone arranjava mulheres para Sartre e depois caía de cama, literalmente doente de ciúmes.

Foram mentes fundamentais para entender nosso século, mas que não parecem ter desenvolvido uma vida plena entre eles.

Os casamentos ditos abertos, com excessivas aventuras, costumam ser os mais pobres.

O prazer da variedade de parceiros pode encobrir a incapacidade afetiva. Na maioria das vezes, não passa de uma adolescência persistente.

O casamento é bom quando a dupla se entende e cada um se revela ao outro progressivamente.

De modo geral, o casamento aberto é um teatro onde as pessoas são os atores e o público.

Seu caso parece mais uma separação pela qual não quer pagar. É querer escolher sem ter perdas. Uma vida que não assumimos é uma vida pela metade.

Arrisco um palpite: você não sentiu ciúme de seu marido, mas gostou das novas conquistas e da possiblidade de ser desejada por outros homens.

Agora falta abrir a carteira e quitar as dívidas.

Beijos meus

Cinthya Verri

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