02
de setembro de 2012 | N° 17180QUASE PERFEITO |
Cínthya
Verri
Casamento aberto dá
certo?
“Durante
13 anos fui monogâmica, mas com muitas escapadas do marido. Agora, ele veio com
a receita ideal: o casamento aberto. Até gosto de me sentir desejada por outros
homens e consegui encontrar prazer, mas ao mesmo tempo morro de ciúmes dele com
outras mulheres. Isso pode dar certo? Carinho, Maria.
Querida
Maria,
O
problema do casamento aberto é que ele logo se torna escancarado.
Casamento
aberto é uma invenção de quem já traía.
Casamento
aberto é uma fachada de lavagem de dinheiro.
Casamento
aberto é colorir a amizade e desbotar o amor.
Casamento
aberto é uma forma intelectual de acumular mulheres.
Casamento
aberto é agência para recrutar nova esposa.
Casamento
aberto é dividir os méritos, mas não dividir as dívidas.
Casamento
aberto é substituir a sinceridade pela bajulação.
Casamento
aberto é o conforto para os indecisos e os mornos.
Casamento
aberto é quando o ciúme é menor do que a realidade.
Casamento
aberto é se sentir desejada por todos os homens, menos por aquele que você
deseja.
Casamento
aberto é a receita ideal para uma vida de solteiro.
Casamento
aberto é menosprezar a dependência dos hábitos.
Casamento
aberto é concurso de sósias.
Casamento
aberto é falsificar o pecado original.
Casamento
aberto é apagar até a possibilidade de trair.
Casamento
aberto é transar no divã.
Casamento
aberto é admirar a sogra mais do que a esposa.
Casamento
aberto é fazer discussão de relacionamento com amantes.
Casamento
aberto é perder o privilégio da vigília, de alguém acordado por você reclamando
que é tarde demais.
Casamento
aberto é ter o sonho assaltado toda semana.
Casamento
aberto é transformar o sexo oposto em sexo aposto: casamento, aberto.
Casamento
aberto é anular a cobrança e a crítica que você possa receber: é a impunidade
amorosa.
Casamento
aberto é trocar as portas pelas cercas, é trocar os cabelos pelos chifres, é
trocar a confiança pelo medo.
Casamento
aberto é para quem não tem coragem nem de se casar muito menos de se separar.
Abraço
com toda ternura,
Fabrício
Carpinejar
Querida
Maria,
Existem
casais com casas separadas; com ou sem filhos; do mesmo sexo; com gatos e
cachorros. Tantos casais além da imaginação. Qualquer tipo de união pode dar
certo. Estima-se que em torno de um terço dos casamentos é firme e prolongado.
Simone
de Beauvoir encarnou o papel de feminista forte e inteligente. Ficou famosa
quando escreveu que o casamento era imoral - o horror de tomar uma decisão
definitiva que envolvesse não só o eu de hoje, mas também o eu do futuro.
Vivia
com Jean-Paul Sartre, um pensador que defendia a individualidade e a liberdade.
Um homem que se relacionava “livremente”, com muitas mulheres, talvez mais para
comprovar sua tese do que por necessidade amorosa. Simone arranjava mulheres
para Sartre e depois caía de cama, literalmente doente de ciúmes.
Foram
mentes fundamentais para entender nosso século, mas que não parecem ter
desenvolvido uma vida plena entre eles.
Os
casamentos ditos abertos, com excessivas aventuras, costumam ser os mais
pobres.
O
prazer da variedade de parceiros pode encobrir a incapacidade afetiva. Na
maioria das vezes, não passa de uma adolescência persistente.
O
casamento é bom quando a dupla se entende e cada um se revela ao outro
progressivamente.
De
modo geral, o casamento aberto é um teatro onde as pessoas são os atores e o
público.
Seu
caso parece mais uma separação pela qual não quer pagar. É querer escolher sem
ter perdas. Uma vida que não assumimos é uma vida pela metade.
Arrisco
um palpite: você não sentiu ciúme de seu marido, mas gostou das novas
conquistas e da possiblidade de ser desejada por outros homens.
Agora
falta abrir a carteira e quitar as dívidas.
Beijos
meus
Cinthya
Verri
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