terça-feira, 18 de setembro de 2012


ELIANE CANTANHÊDE

Chama o Okamoto!

BRASÍLIA - A não entrevista de Marcos Valério à revista "Veja" vale menos pelo que mostra e mais pelo que não mostra, mas insinua. É um recado, um aviso, uma ameaça.

Antes do julgamento, havia a crença de que o mensalão "não ia dar em nada". Com o andar da carruagem, está dando em muita coisa: os empréstimos eram fictícios e houve desvio de dinheiro público, corrupção passiva, lavagem de dinheiro. E, ontem, o relator Joaquim Barbosa concluiu: houve compra de voto, sim. O mensalão existiu.

Bate o desespero. Quanto mais o Supremo expõe o grau de comprometimento de cada um, mais os réus revelam o seu grau de compromisso com o esquema. Intensifica-se uma aposta de anos em Brasília: quem vai "abrir o bico" primeiro?

Os maiores candidatos são os três destacados para o papel de principais vilões: Delúbio, do "núcleo político", Pizzolato, do "financeiro", e Valério, do "operacional". Mas Pizzolato é um mequetrefe no PT e, para Delúbio, é uma questão de alma. Porém Valério serve a qualquer senhor e tem bolso, não alma, lealdade.

Como diz o procurador Roberto Gurgel, ele é "um jogador". Dá as cartas, blefa e manipula as fraquezas dos demais jogadores. Sem nada a perder, é capaz de qualquer coisa.

Sua não entrevista não é o fim, é apenas o começo. Ele joga Lula no meio da mesa, sente a repercussão e avisa, como publicou o repórter Ricardo Noblat ontem, que tem fitas gravadas capazes de balançar a República petista. Assim, abre a porteira e deixa mais à vontade outros réus que, como ele, não admitem morrer sozinhos e entram na faixa do "perdido por um, perdido por mil".

Quando a coisa aperta, Valério diz que lhe enviam o faz-tudo de Lula, Paulo Okamoto: "A função dele é me acalmar". Pois quanto mais o julgamento avança, mais trabalho para Okamoto. Tem muito "jogador" precisando ser "acalmado". Só não dá para saber exatamente como.

elianec@uol.com.br

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