ELIANE
CANTANHÊDE
Chama o Okamoto!
BRASÍLIA
- A não entrevista de Marcos Valério à revista "Veja" vale menos pelo
que mostra e mais pelo que não mostra, mas insinua. É um recado, um aviso, uma
ameaça.
Antes
do julgamento, havia a crença de que o mensalão "não ia dar em nada".
Com o andar da carruagem, está dando em muita coisa: os empréstimos eram fictícios
e houve desvio de dinheiro público, corrupção passiva, lavagem de dinheiro. E,
ontem, o relator Joaquim Barbosa concluiu: houve compra de voto, sim. O mensalão
existiu.
Bate
o desespero. Quanto mais o Supremo expõe o grau de comprometimento de cada um,
mais os réus revelam o seu grau de compromisso com o esquema. Intensifica-se
uma aposta de anos em Brasília: quem vai "abrir o bico" primeiro?
Os
maiores candidatos são os três destacados para o papel de principais vilões: Delúbio,
do "núcleo político", Pizzolato, do "financeiro", e Valério,
do "operacional". Mas Pizzolato é um mequetrefe no PT e, para Delúbio,
é uma questão de alma. Porém Valério serve a qualquer senhor e tem bolso, não alma,
lealdade.
Como
diz o procurador Roberto Gurgel, ele é "um jogador". Dá as cartas,
blefa e manipula as fraquezas dos demais jogadores. Sem nada a perder, é capaz
de qualquer coisa.
Sua
não entrevista não é o fim, é apenas o começo. Ele joga Lula no meio da mesa,
sente a repercussão e avisa, como publicou o repórter Ricardo Noblat ontem, que
tem fitas gravadas capazes de balançar a República petista. Assim, abre a
porteira e deixa mais à vontade outros réus que, como ele, não admitem morrer
sozinhos e entram na faixa do "perdido por um, perdido por mil".
Quando
a coisa aperta, Valério diz que lhe enviam o faz-tudo de Lula, Paulo Okamoto:
"A função dele é me acalmar". Pois quanto mais o julgamento avança,
mais trabalho para Okamoto. Tem muito "jogador" precisando ser "acalmado".
Só não dá para saber exatamente como.
elianec@uol.com.br
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