sábado, 22 de setembro de 2012



23 de setembro de 2012 | N° 17201
PAULO SANT’ANA

O azedume no rádio

Hoje vou falar sobre um fato que me provoca engulhos: os apresentadores de programas de rádio que são mal-humorados, azedos.

Houve recentemente um apresentador de programa de rádio que passou xingando, durante 15 anos, todos os ouvintes que ele entrevistava.

Isso devia causar revolta nos entrevistados, mas nos ouvintes em geral causava espanto que se entregasse o microfone de uma rádio para um profissional desancar os entrevistados em todas as entrevistas.

Durante 15 anos, foi aquele mal-estar entre os ouvintes daquele programa. Era pau e pau no ouvinte, mas não era um pau e pau cordial, tipo brincadeira. Era pau e pau severo, pancadaria verbal amaríssima (vem de amargo) sobre os entrevistados.

Foi uma página triste do rádio gaúcho.

Mas há ainda muitos outros apresentadores de programas mal-humorados. A gente está engarrafado no trânsito e fica ouvindo os mal-humorados do rádio espalhando com metástase o seu azedume entre os ouvintes.

Não há nada pior do que estar engarrafado numa das avenidas porto-alegrenses e receber no rádio aquela onda de acidez humoral despejada no microfone pelos mal-humorados que apresentam certos programas. O engarrafamento fica mais longo, penoso e insuportável.

Não posso entender, sinceramente, que se utilize o rádio para transmitir amargor permanentemente.

Rádio não é lugar para mal-humorado trabalhar. Que busque outra atividade, talvez como segurança, mas não infringindo o apostolado de alegria e cordialidade que deve caracterizar as transmissões radiofônicas.

Há dias, eu tinha de ir a Esteio para uma reunião com membros de uma imobiliária que me fizeram uma trampolinagem.

Eu estava decidido a botar pra quebrar nessa reunião. Queria lascar o pau verbal nos autores da falsa esperteza em que quiseram me envolver.

Então planejei o seguinte: marquei a reunião lá para Esteio para um horário logo em seguida a um programa de rádio apresentado por um desses azedinhos que não têm jogo de cadeiras e inculcam seu mau humor nos ouvintes.

Fui ouvindo durante 50 minutos o programa do apresentador mal-humorado. Fui me irritando pela BR-116 e, quando cheguei à reunião, eu estava no ponto, na ponta dos cascos para a intervenção severa e mal-humorada que eu tinha de apresentar na reunião.

Em meio ao meu discurso ácido, as pessoas que eu xinguei impavidamente chegaram a me oferecer um sal de frutas para tentar me suavizar.

Mas consegui me safar da encrenca de Esteio massageado pelo programa mal-humorado que fui ouvindo até lá.

Por outra parte, para ser justo, há muitos apresentadores de programas de rádio que são alegres e cordiais, infundem otimismo nos ouvintes, principalmente pelas manhãs, quando todos estão iniciando o dia e necessitam levantar o astral.

Portanto, abaixo o mau humor no rádio, viva o contentamento no rádio. Sejam otimistas e alvissareiros os apresentadores de programas de rádio, espalhem bom astral para seus ouvintes, já que na maioria das vezes as pessoas ligam o rádio para ver se ele as ajuda para saírem de sua aflições.

E um dos deveres principais do rádio é o de socorrer as pessoas preocupadas ou aflitas.

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