quarta-feira, 26 de setembro de 2012



26 de setembro de 2012 | N° 17204
EDITORIAIS ZH

LEGÍTIMA DEFESA

Assim como já havia feito em 2011, a presidente Dilma Rousseff aproveitou o seu discurso na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ontem, para criticar a estratégia de combate à crise econômica global por parte do mundo desenvolvido.

A presidente condenou ações de países industrializados que acabam prejudicando as exportações de nações emergentes e rechaçou as acusações de protecionismo feitas contra o Brasil, alegando que estão sendo adotadas apenas iniciativas legítimas de defesa comercial.

Infelizmente, discursos como esse costumam cair no esquecimento, ainda mais quando a preocupação predominante de qualquer país é fazer sua economia avançar, particularmente no auge de uma campanha às eleições presidenciais, como ocorre agora nos Estados Unidos. Ainda assim, isso não significa que o Brasil deva abrir mão de reivindicações legítimas, como as destinadas a fazer a economia interna andar, ampliando a oferta de emprego e reforçando a renda.

De um lado, o que se constata neste momento é uma forte reação dos Estados Unidos à elevação de tarifas de importação de cem produtos no Brasil e no Mercosul, que alegam obediência aos parâmetros determinados pela Organização Mundial de Comércio (OMC). De outro, o Planalto alega que protecionistas são os norte-americanos.

E mais: reclama dos estímulos internos aprovados pela Casa Branca que, ao elevarem a quantidade de dólares em circulação, fazem o valor da moeda norte-americana cair. Bom para as importações e para os turistas brasileiros, o dólar baixo é péssimo para a indústria nacional, pois a produção local fica muita cara no Exterior. Em consequência, o Ministério da Fazenda é forçado a recorrer a malabarismos permanentes para evitar uma queda excessiva no dólar e consequências que poderiam se mostrar danosas para o país.

A presidente da República age certo ao aproveitar seu discurso na ONU para apontar falhas na estratégia global contra a crise e defender um pacto pela retomada do crescimento mundial, mas o Brasil também precisa fazer sua parte nesse processo.

É inadmissível que, diante de uma crise ainda sem perspectiva de fim, cada um insista em atuar como lhe convém, se possível sem permitir que os parceiros ajam de forma semelhante e sem se preocupar com esforços mínimos de coordenação. Por isso, o país tem suas razões ao cobrar providências adequadas do mundo desenvolvido, mas precisa fazer o que está ao seu alcance, como é o caso das reformas estruturais.

Se a Casa Branca se empenha em tornar o dólar mais barato, o Planalto não pode se omitir diante da necessidade de preservar o setor produtivo no Brasil e tem o direito de agir em legítima defesa. Ainda assim, o país também precisa se mobilizar internamente com o objetivo de fazer o que lhe diz respeito, tomando providências para reduzir os custos de quem produz para tornar as exportações brasileiras mais competitivas.

Multimídia

A presidente da República age certo ao aproveitar seu discurso na ONU para apontar falhas na estratégia global contra a crise e defender um pacto pela retomada do crescimento mundial, mas o Brasil também precisa fazer sua parte nesse processo.

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