25 de setembro de 2012 |
N° 17203
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Três palpites sobre Quintana
Mario Quintana está tendo sua
obra toda republicada com galas por editora forte de fora daqui (Alfaguara).
Bom momento para voltar a pensar sobre ele, sem muito rigor mas com gosto.
1. Rua dos Cataventos: o
lançamento de seu primeiro livro, em 1940, ocorreu quando ele já tinha nome
como poeta entre os escritores de Porto Alegre. O caso mais notório é o de
Augusto Meyer, que nesta altura já vivia no Rio. Cidade provinciana, a Porto
Alegre de 1940 era a sede da Editora Globo, que naquele momento arrancava para
tornar-se uma potência nacional;
Quintana fazia parte desse
processo, como tradutor. A publicação de Rua dos Cataventos foi um
acontecimento de relativamente pouca repercussão. Quintana só veio a se tornar
um poeta respeitado e lido amplamente depois de 1966, quando uma antologia de
sua obra foi publicada no Rio, ocasião em que ele esteve na Academia Brasileira
de Letras, ciceroneado pelo velho amigo Meyer.
2. Quintana tem um conhecimento
sólido das formas poéticas estáveis, como o soneto, e obteve uma notável
fluência na escrita do que poderíamos chamar de português comunicativo (em
parte fruto de seu trabalho de tradutor); a soma dessas duas virtudes dá o tom
de sua poética, pelo lado formal.
Pelo lado ideológico, foi uma
espécie de romântico tardio, marcado pela recusa a abordar os temas mais duros
de sua época – aliás, quando abordava os impasses de sua geração (como os
dilemas do engajamento da arte, tendo em vista o horizonte da Segunda Guerra e
da Guerra Fria), era para negar-se a discutir o tema, preferindo evadir-se em
direção a campos temáticos em certa medida regressivos (a infância, a loucura,
os anjos, o subúrbio lírico, a cidadezinha pequena fora do ritmo moderno etc.).
3. No tema amoroso, em que há
poetas grandes em sua geração (Drummond, Vinicius de Moraes, Bandeira),
Quintana igualmente não é notável: em sua poesia não parece pulsar desejo
erótico, salvo contadas exceções. Dito isso tudo, ele foi um grande poeta na
busca pela frase de efeito (não à toa ele é muito citado pelas frases, pelas
tiradas de humor rápido), no desenho de desabafos líricos, no comentário meio
desaforado contra a seriedade burguesa.
Para mim, sua melhor fase está na
maturidade, na altura dos Apontamentos de História Sobrenatural, em que tudo
isso aparece temperado de algum surrealismo, em poemas sobre o preço da
velhice, da passagem do tempo, a nostalgia da inocência etc.
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