29
de setembro de 2012 | N° 17207
NILSON
SOUZA
Abro meus votos
Não
sei ainda em quem vou votar, mas certamente não será em candidatos que
atrapalham a minha visão de motorista nas rótulas e nos cruzamentos da cidade,
com seus retratos de sorriso forçado.
Também
não vou digitar na urna eletrônica o número dos engraçadinhos, dos maus poetas,
dos folclóricos, dos que usam artifícios e trocadilhos para aparecer mais do
que os outros na propaganda oficial. Pretendo, igualmente, ignorar aqueles que
fazem promessas absurdas ou que desfazem tudo o que seus oponentes realizam ou
realizaram. Sobra alguém?
Sobra,
certamente. Nesta semana que ainda falta para o dia da votação, vou reexaminar
as informações de que disponho dos pretendentes a cargos públicos que já passaram
pelo teste do “não”, a fim de eleger a dezena de minha preferência para o Paço
Municipal e os cinco dígitos daquele que poderá me representar na Câmara de
Vereadores.
Respeito
quem vota em branco, mas sou pragmático demais para protestar desta maneira. Se
eu não escolher, alguém escolherá por mim – e aí, sim, terei que me conformar
com o que vier. Prefiro errar com os meus próprios dedos.
Quem
sabe, não acerto? Talvez eu seja um crédulo fora de moda, mas continuo achando
que temos homens e mulheres honrados na política, assim como em qualquer outra
atividade. E acredito, acima de tudo, nesta fórmula engenhosa que permite a
cada cidadão conversar apenas com a sua consciência antes de decidir o que fazer
com o seu direito de votar.
Trago
este sentimento da infância, quando via meu pai vestir a sua melhor roupa e
colocar gravata para se dirigir à urna. Ele era um homem de pouca instrução,
jamais o ouvi pronunciar a palavra democracia, mas sua atitude nos dias de
pleito expressava bem o orgulho de se sentir uma pessoa livre e importante para
o país.
Meus
votos, portanto, serão depositados neste sonho e nesta crença de que somos
cidadãos plenos, empoderados de liberdade para gerir nossos próprios destinos. Não
importa os números e os nomes que vamos escolher.
Importa,
mesmo, é saber por que estamos votando. Importa, especialmente, votarmos com a
convicção de que este gesto simples de escolher – e acreditar na escolha – contribui
para o engrandecimento do nosso país. Abro meus votos, sim. Sem gravata, mas
com o mesmo orgulho ancestral, votarei no direito de votar, que não é só meu,
mas de todos os brasileiros.
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