sexta-feira, 14 de setembro de 2012



14 de setembro de 2012 | N° 17192
PAULO SANT’ANA

Uma carta inexplicável

Recebo do comandante do 1º BPM uma correspondência em que lastima a repercussão que se deu a uma ocorrência havida no dia 31 de agosto, quando a imprensa noticiou que brigadianos de serviço cometeram tropelias e violência contra frequentadores do Parque Marinha do Brasil.

Depois da carta do tenente-coronel, este colunista tece, abaixo, comentários sobre a contradição. Eis o que me mandou dizer o oficial:

“Caro educador Paulo Sant’Ana. Tenho que iniciar esta correspondência denominando este colunista assim, porque também sou um daqueles leitores que abrem a ZH pelo final, ou seja, pela sua coluna.

Sou policial militar há 30 anos e atualmente estou no comando do 1º BPM, responsável pelo policiamento na zona sul de Porto Alegre e, talvez devido a alguma deficiência, custo a entender o porquê de tamanha repercussão de uma abordagem policial realizada em um parque, no caso o Marinha do Brasil (na data de 31 de agosto), quando fomos atender apenas um dos inúmeros pedidos da comunidade que clama por providências em virtude do consumo de substâncias ilícitas, principalmente a maconha.

Pessoas relatando que não mais frequentam aquele local e tampouco têm coragem de levar seus filhos, devido a tais ilícitos.

A mídia tem nos auxiliado divulgando as imagens onde constatamos o absurdo ao ver oferecerem drogas a uma criança de no máximo seis anos, diga-se de passagem, abordagem que resultou na instauração de um Inquérito Policial Militar para apurar se houve algum excesso por parte dos PMs.

Porém, ao ler a tua coluna do dia 4 de setembro, ou seja, uma aula que deste, posso começar a entender melhor os fatos e ver o quanto são brilhantes estes PMs que diuturnamente sacrificam suas vidas em prol da comunidade, sendo a única profissão que faz o juramento de sacrificar a própria vida, tornando-se verdadeiros ‘Anjos do Sacrifício’.

Observo que pensei em iniciar chamando-o de professor, porém com receio que viesse a cobrar hora-aula, decidi por educador. Um forte abraço de um grande admirador. (ass.) Altemir Silva de Lima – Ten. Cel. QOEM, Cmt do 1º BPM”.

Agora, escreve este colunista. Tudo bem, meu caro tenente-coronel, ocorre, no entanto, que a reportagem que Zero Hora realizou no dia 2 de setembro a respeito do fato em tela nada mais fez do que relatar fielmente o testemunho de pessoas que viram por inteiro a abordagem dos soldados da BM.

Não há nada inventado ali. Inclusive o fato condenável de os PMs terem deitado sobre o chão um cidadão respeitável, algemando-o pelas costas, depois de tê-lo espancado. Antes disso, apreenderam o celular do cidadão espancado porque ele estava filmando a ação dos policiais militares. Os testemunhos ouvidos são fartos e depõem que houve arbitrariedade grave.

Desculpe, tenente-coronel, mas causa surpresa que o senhor, comandante do 1º BPM , avalize violência arbitrária de patrulha da PM, principalmente depois de ter lido na mesma edição do jornal a seguinte declaração de seu superior, o chefe do Comando de Policiamento da Capital, coronel César Freitas, que disse o seguinte: “Eram três policiais fortes, um deles com arma longa, para conter um rapaz desarmado?

E tinha mulher e bebê ainda? É inexplicável. Nem preciso ver as imagens para desconfiar de que algo errado aconteceu nessa abordagem. Se o rapaz estava apenas filmando e nem agrediu ninguém, não teria por que usar da violência para contê-lo ou impedir sua filmagem”.

Incrível, mas o superior do tenente-coronel que me escreveu está desautorizando completamente a carta que ele escreveu para este colunista.

Portanto, coronel Altemir, obrigado pelos elogios que me fez em sua mensagem, mas acho exótico que o senhor carimbe e prestigie um ato tão reprovável de seus comandados, além de cometer indisciplina contra seu superior, o coronel chefe do Policiamento da Capital.

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