sexta-feira, 21 de setembro de 2012



21 de setembro de 2012 | N° 17199
EDITORIAIS ZH

FRAGILIDADE MORAL

Ainda que sejam condenados todos os réus do mensalão cujas responsabilidades forem apuradas e reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ficará para o país uma incômoda sensação de fragilidade moral de uma parcela considerável do Congresso, que se revelou vulnerável à compra de votos por parte de representantes do Executivo.

O golpe do STF na impunidade, certamente, ajuda a reduzir o espaço para a imoralidade, ao desfazer a ideia de vale-tudo na política e, ao mesmo tempo, definir parâmetros claros sobre até onde vão os limites legais da negociação, particularmente quando está em jogo a formação de complexas bases de apoio parlamentar. De qualquer forma, é essencial que também os legisladores e partidos políticos desenvolvam novos mecanismos de controle e de transparência para evitar a promiscuidade revelada pelo episódio em julgamento.

O Brasil, mesmo na condição de signatário de algumas das mais importantes convenções internacionais cujo compromisso é combater a corrupção, desperdiça cerca de R$ 7 bilhões a cada ano apenas com as perdas causadas por fraudes, nos cálculos da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Os desvios em excesso, que fazem o país figurar em todos os rankings de nações nos quais a corrupção é um problema, são explicados em grande parte pela falta de leis mais rígidas contra corruptos e corruptores e pela pouca ou nenhuma disposição de homens públicos em levá-las a sério. Além disso, há a histórica dificuldade do Judiciário, que o julgamento do mensalão começa a atenuar, de punir beneficiários de mau uso de dinheiro público, particularmente quando ocorre o envolvimento de governantes e parlamentares.

Obviamente, o combate a deformações no uso de verbas governamentais depende não da quantidade de leis, mas da determinação de aplicá-las. É inaceitável, porém, que na Câmara e no Senado tramitem hoje 139 projetos de lei com a disposição de enfrentar de alguma forma essa chaga nacional, mas não haja o mínimo de disposição do conjunto de parlamentares em fazê-los andar. A única explicação para a resistência dos responsáveis pela elaboração de leis em aprovar as destinadas especificamente a moralizar o país só pode ser o temor de que elas possam se voltar contra eles mesmos.

Assim como os ministros do STF, também os políticos e dirigentes de agremiações partidárias deveriam demonstrar maior empenho contra a corrupção, a começar pela imposição de critérios mais rígidos na seleção de candidatos. Essa, porém, é uma questão que vai depender de pressão constante por parte da sociedade, pois é improvável que os políticos, entre os quais costumam predominar interesses corporativistas e até mesmo financeiros, se disponham a enfrentá-la por vontade própria.

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