sexta-feira, 28 de setembro de 2012



Cinco mulheres diferentes em Portugal nos anos 1980

A escritora portuguesa Lídia Jorge nasceu em Algarve, em 1946. De sua vasta obra, destacam-se os romances O dia dos prodígios (1980), O cais das merendas (1982), Notícia da cidade silvestre (1984), Vale da paixão (1998) e O vento assobiando nas gruas (2002). Por sua importante produção, que já se destaca na literatura portuguesa contemporânea, a escritora recebeu o prêmio Albatros (2006) da Fundação Günter Grass, na Alemanha, e o Grande Prêmio Sociedade Portuguesa de Autores - Millenium BCP, entre muitos outros.

Sua obra tem sido traduzida em muitos países, com sucesso de crítica e de público. O novo romance da autora, A noite das mulheres cantoras, acaba de ser lançado no Brasil pela Leya (320 páginas, R$ 44,90). A narrativa caudalosa e rica como outras da literatura de Portugal das últimas décadas tem, como cenário, Portugal nos anos 1980. Cinco mulheres diferentes, formadoras de um grupo musical - Gisela, Maria, Nani, Madalena e Solange -, se encontraram e se separam. 

Solange de Matos, a protagonista, durante o reencontro com o antigo grupo, revive velhas emoções. Fatos ocorridos há 21 anos deixaram lacunas no coração de Solange e marcaram um período de renúncias e sacrifícios por um ideal, por uma perspectiva. Num determinado momento, Gisela, a líder do grupo, a mais obsessiva pela fama e pelo sucesso e a mais apta a abandonar tudo por eles, deu uma ordem.

Falou que entre as cantoras não haveria mais amores, nem pancadarias, nem acasalamentos, nem sonhos, que todos os sonhos teriam de estar colocados nas pautas que estavam pousadas sobre a tampa do piano. Uma revelação de Gisela e um inesperado encontro com um homem do passado de Solange, João Lucena, mudam os rumos da noite misteriosa e cheia de magia de Solange. A trama é narrada a partir do ponto de vista de Solange e de sua memória que, com o tempo, pode ser traiçoeira.

O livro, além de memorialístico, transforma-se em um denso romance psicológico. A narrativa transporta os leitores para uma época aparentemente glamurosa, mas que por trás de todo o brilho, escondia brigas, disputas de poder e intrigas, acobertadas por um  belo sorriso e por uma apresentação digna de espetáculo, que tempo nenhum ousa apagar. Solange não se deixou seduzir pelas palavras de Gisela e envolveu-se profundamente com o coreógrafo. As músicas de sua autoria tinham de ser assinadas com um nome masculino. A banda precisava de uma retaguarda masculina para sobreviver.

Seis personagens, uma história de amor comovente, a luta entre o individual e o coletivo e as questões sociais demonstram, uma vez mais, a força da ficção de Lídia Jorge, já muito conhecida e apreciada pelos leitores brasileiros.

Jaime cimenti

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