Cinco mulheres diferentes em Portugal
nos anos 1980
A
escritora portuguesa Lídia Jorge nasceu em Algarve, em 1946. De sua vasta obra,
destacam-se os romances O dia dos prodígios (1980), O cais das merendas (1982),
Notícia da cidade silvestre (1984), Vale da paixão (1998) e O vento assobiando
nas gruas (2002). Por sua importante produção, que já se destaca na literatura
portuguesa contemporânea, a escritora recebeu o prêmio Albatros (2006) da Fundação
Günter Grass, na Alemanha, e o Grande Prêmio Sociedade Portuguesa de Autores -
Millenium BCP, entre muitos outros.
Sua
obra tem sido traduzida em muitos países, com sucesso de crítica e de público.
O novo romance da autora, A noite das mulheres cantoras, acaba de ser lançado
no Brasil pela Leya (320 páginas, R$ 44,90). A narrativa caudalosa e rica como
outras da literatura de Portugal das últimas décadas tem, como cenário,
Portugal nos anos 1980. Cinco mulheres diferentes, formadoras de um grupo musical
- Gisela, Maria, Nani, Madalena e Solange -, se encontraram e se separam.
Solange
de Matos, a protagonista, durante o reencontro com o antigo grupo, revive
velhas emoções. Fatos ocorridos há 21 anos deixaram lacunas no coração de
Solange e marcaram um período de renúncias e sacrifícios por um ideal, por uma
perspectiva. Num determinado momento, Gisela, a líder do grupo, a mais
obsessiva pela fama e pelo sucesso e a mais apta a abandonar tudo por eles, deu
uma ordem.
Falou
que entre as cantoras não haveria mais amores, nem pancadarias, nem
acasalamentos, nem sonhos, que todos os sonhos teriam de estar colocados nas
pautas que estavam pousadas sobre a tampa do piano. Uma revelação de Gisela e
um inesperado encontro com um homem do passado de Solange, João Lucena, mudam
os rumos da noite misteriosa e cheia de magia de Solange. A trama é narrada a
partir do ponto de vista de Solange e de sua memória que, com o tempo, pode ser
traiçoeira.
O
livro, além de memorialístico, transforma-se em um denso romance psicológico. A
narrativa transporta os leitores para uma época aparentemente glamurosa, mas
que por trás de todo o brilho, escondia brigas, disputas de poder e intrigas,
acobertadas por um belo sorriso e por
uma apresentação digna de espetáculo, que tempo nenhum ousa apagar. Solange não
se deixou seduzir pelas palavras de Gisela e envolveu-se profundamente com o
coreógrafo. As músicas de sua autoria tinham de ser assinadas com um nome
masculino. A banda precisava de uma retaguarda masculina para sobreviver.
Seis
personagens, uma história de amor comovente, a luta entre o individual e o
coletivo e as questões sociais demonstram, uma vez mais, a força da ficção de
Lídia Jorge, já muito conhecida e apreciada pelos leitores brasileiros.
Jaime
cimenti
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