Kenneth Maxwell
Novo tremor de Lisboa
Por oito horas na sexta-feira, o
Conselho de Estado português debateu as propostas de austeridade do governo,
com a presença do presidente Aníbal Cavaco Silva.
Uma semana antes, centenas de
milhares de pessoas saíram às ruas para expressar oposição às medidas do
governo, que ameaça elevar a contribuição previdenciária dos trabalhadores de
11% para 18% dos salários, reduzindo a contribuição das empresas de 24% para
18%.
O Conselho de Estado se viu
sitiado pelos manifestantes em Lisboa, e o primeiro-ministro Pedro Passos
Coelho prometeu uma renegociação com os sindicatos e os empregadores.
Diferentes de espanhóis ou
gregos, os portugueses demoraram a reagir às consequências econômicas do acordo
de resgate fechado no ano passado com a União Europeia, o Fundo Monetário
Internacional e o Banco Central Europeu.
Mas o desemprego atingiu 15,7% no
país em julho. A economia portuguesa se contraiu em mais de 3%. Ficou evidente
que a população foi submetida a pressão forte demais. O amplo consenso político
que existia quanto à política econômica se desfez, causando severo desgaste na
coalizão de centro-direita.
Os portugueses ainda precisam
reduzir seu Orçamento em bilhões de euros. O governo propõe novos cortes nos
subsídios, e os sindicatos sugerem impostos mais altos para as empresas e sobre
os dividendos dos grandes acionistas.
É tudo bem diferente da situação
econômica de Angola, uma antiga colônia portuguesa rica em petróleo, ou, aliás,
do Brasil. Angolanos ricos estão adquirindo imó-veis de luxo em Lisboa, e a
Embraer fechou um contrato para a produção de componentes para seus novos jatos
executivos Legacy 450 e 500 em Portugal.
A economia angolana cresceu a uma
média de 15% ao ano entre 2002 e 2008, e o investimento brasileiro em Angola
subiu em 20 vezes no período. Mais de 100 mil portugueses trabalham em Angola,
hoje. Muitos se transferiram para o Brasil. Brasileiros estão adquirindo
porções lucrativas dos ativos portugueses privatizados.
Seria demais esperar que os novos
ricos brasileiros e angolanos fossem populares em Portugal. Para piorar as
coisas, um terremoto de magnitude 3,6 na escala Richter atingiu Ourique, no sul
da província de Alentejo, nesta semana.
Ourique é o local em que Afonso
Henriques derrotou os mouros almorávidas comandados por Ali ibn Yusuf, em 1139,
e foi proclamado primeiro rei de Portugal. A vitória foi atribuída a são Tiago.
Tudo o que falta acontecer agora é um novo terremoto em Lisboa.
KENNETH MAXWELL escreve
às quintas-feiras nesta
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