16 de setembro de 2012 |
N° 17194
PAULO SANT’ANA
A espera
Escrevi no último domingo que,
quando eu era criança, havia na frente de minha casa um coqueiro em que um
casal de canários-belgas fazia ninho e de lá emitia cantos de estupenda beleza.
Pois inúmeros leitores me
mandaram dizer que cometi um engano e, pelas razões que alegaram, acho que o
cometi mesmo.
Eles me mandaram dizer que o
canário-belga é uma ave exótica (não faz parte da fauna brasileira) e que
certamente não eram belgas os canários que me deliciavam com seus trinados em
minha meninice.
Mandaram dizer mais: 1) os
canários-belgas só fazem ninho em gaiolas, não sobrevivem sequer um mês no meio
silvestre e em liberdade, não poderiam, assim, morar no coqueiro da minha
infância; 2) em liberdade, os canários-belgas morrem de fome ou de frio; 3)
entre os canários-belgas, assim como os nossos canários-da-terra, quem canta é
o macho. O canto serve para a corte durante o acasalamento.
Feitos, então, os
esclarecimentos, declaro que não raro um cronista se equivoca, ainda mais na
lembrança de fatos ocorridos 60 anos atrás.
A espera pelo prazer anseia. A
espera pelo castigo aterroriza. A espera pelo amor palpita. A espera pelo
rompante de ciúme da parceira delicia.
A espera pela dor angustia. A
espera pelo silêncio azucrina. Enquanto a espera pela fé suscita a dúvida, a
espera pela morte assombra.
A espera pela vingança
entusiasma. A espera pelo dentista gela.
A espera pela guerra tensiona. A
espera pela fortuna é um devaneio.
A espera pela pobreza faz o homem
tombar. Já a espera pela promoção de cargo no serviço dilacera.
A espera pela separação
desnorteia e a espera pelo matrimônio empolga.
A espera pelo dia seguinte traz
agitação. E a espera na sala de espera é constrangedora, um olhando para o
outro e logo desviando o olhar, igual quando se está dentro do elevador lotado.
Na infância, a espera para ser
adulto é angustiante, principalmente entre os adolescentes que não veem chegar
o dia em que poderão dirigir automóvel.
Já na maturidade, está sempre à
nossa espera o sonho de voltar a ser criança.
A espera pela fila da consulta e
da cirurgia no SUS desespera.
Escrevi que no engarrafamento na
BR-101, em Laguna, domingo passado, lamentavelmente os policiais rodoviários
multavam todos os motoristas que usavam o acostamento para diminuir um
pouquinho a angústia de três horas andando a dois quilômetros por hora.
Centenas de multas, quando deveriam os policiais se dedicar naquela
excepcionalidade somente a organizar aquele caos.
Responderam-me diversas pessoas,
entre as quais algumas autoridades, afirmando que é necessário observar a lei e
até atentar para que também o acostamento serve para socorro em caso de acidente,
discordando completamente de mim.
E eu prossigo dizendo que em caso
de engarrafamento-monstro, não se justifica multar quem recorre ao acostamento.
Finalmente: dia 11 de setembro de
2001, quando foram derrubadas as duas torres em Nova York, milhares de carros
trafegaram durante horas contra a mão em Manhattan.
Será que foram multados?
Respondam por favor!
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