23
de setembro de 2012 | N° 17201
VERISSIMO
Democracia
A
família estava dividida. Metade achava que o primo Osvaldo estava fazendo um
papelão, concorrendo a vereador com aquele slogan, Osvaldo baixa o pau e
aparecendo na televisão com cara de mau. Logo o Osvaldo da tia Margarida, um
doce de pessoa.
–
Vexame – era a opinião de alguns.
Já
outros achavam que o Osvaldo tinha todo o direito de entrar na política e se
apresentar daquele jeito. Cara de mau, braços cruzados, dizendo: “Comigo,
corrupto vai se dar mal. Osvaldo baixa o pau”. Atraía voto.
– É
ridículo. – Então democracia é ridículo?
– E
isso é democracia? – É.
Os
que achavam que o Osvaldo estava envergonhando a família argumentavam que ele,
inclusive, estava mentindo. Nunca fora de briga. Nunca baixara o pau em
ninguém. Era um doce de pessoa.
– E
vocês queriam que o slogan dele fosse esse, “Osvaldo, um doce de pessoa”?
Um
dia o Marcelinho chegou da escola eufórico. Tinha se transformado num herói da
turma, depois da descoberta de que era parente do Osvaldo. Ficara encarregado
de pedir autógrafos do Osvaldo para todo o mundo. De preferência santinhos do
Osvaldo de braços cruzados e cara de mau autografados.
Marcelinho
se esforçava para promover a imagem do primo. Ele era mesmo de baixar o pau?
–
Uma fera – confirmava o Marcelinho.
As
discussões sobre o Osvaldo era intermináveis.
–
Esses candidatos folclóricos, sem nenhuma condição para serem políticos,
desmoralizam a democracia, isto sim.
–
Vocês é que são elitistas. Não querem democracia, querem ser governados por uma
aristocracia. Tem horror do povão.
– E
desde quando o Osvaldo é povão? Vive da pensão da tia Margarida. Nunca fez nada
na vida.
– E
quem garante que a vocação dele não é para a política? Pode ser uma revelação.
–
Então vocês acreditam que ele vai baixar o pau como diz?
–
Quem sabe? Quem sabe?
Faltava
o velho Tobias dar a sua opinião. O patriarca raramente se manifestava, à mesa.
Mas desta vez falou. Lembrou que o Osvaldo, mesmo que não combatesse os
corruptos, poderia ajudar a família.
Como
vereador, depois – quem sabe? – como deputado, poderia dar uma mãozinha na
questão daquele terreno contestado cujo processo se arrastava por tantos anos.
Influenciando autoridades e, em vez de baixando o pau, mexendo os pauzinhos
certos. De qualquer maneira, seria bom ter um politico representando os
interesses da família.
–
Afinal – disse o velho Tobias – democracia é isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário