Campanha
política
O
Mario Quintana, sempre ele, definitivo, escreveu que não existe nada mais
encantador do que esses sorrisos de candidato. Ele foi candidato à Academia
Brasileira de Letras e, apesar dos seus sorrisos e dos seus versos que estão
cada vez melhores, tipo a voz do Carlos Gardel, não foi eleito.
Pior
para a Academia, que saiu perdendo feio. Melhor para nós, que ganhamos os
famosos versos: todos esses que aí estão / atravancando meu caminho/ eles
passarão / eu passarinho. Pensando bem, ter sido barrado na ABL até deu um
upgrade no currículo do poeta. Ele nem precisava, está para sempre na boca e no
coração do povo, nas ruas, nos muros e nas praças, os melhores lugares para um
Homem de Letras.
Mas
falando em sorrisos e campanhas, hoje assisti ao programa eleitoral da TV.
Assisti todo, pois sou democrático. Cores claras, cenários coloridos, sorrisos,
muitas, muitas emoções, muitas promessas e ótimo mercado para roteiristas,
publicitários, redatores, cabeleireiros, maquiadores e pessoas de marketing.
Trilha sonora caprichada, improvisos bem decorados e papos motivacionais até me
comoveram um pouco, enquanto eu fazia ginástica na esteira.
Sei
lá, no fundo, apesar de tudo e das minhas décadas de existência, me recuso a
não acreditar, de todo, na política e nos políticos. Não tenho mais o otimismo
e o vigor dos meus trinta anos, quando fui para a praça berrar pelas Diretas
Já! Mas ainda procuro fazer bater um coração de estudante lá no fundo do peito
e tenho esperanças de que, no fim, dá tudo certo.
Se
não deu é porque não chegou ao fim, como dizia o outro. Não gosto de pensar que
política é apenas arte do possível, negócio, teatrão e não sei mais o quê. Não
gosto de pensar, apenas, como o outro, que a gente troca os políticos pela
mesma razão que troca as fraldas de um bebê. Estamos todos juntos, misturados,
tentando as melhores escolhas e procurando seguir os melhores caminhos.
Claro
que é complicado, que o mundo está cada vez mais doido, que a gente vai
envelhecendo. Pois é, sempre é bom lembrar que a alternativa para não ir
adiante e envelhecer é bem pior. Ninguém quer a morte, só saúde e sorte, como
diz a canção. Sorte e saúde para nós, todos, eleitores e candidatos. Sorte,
saúde, segurança e educação.
Acho
que nunca precisamos tanto de sorte. Não há de faltar, né? Nem penso e muito
menos escrevo a palavrinha aquela que significa o contrário de sorte. E tomara
que a morte morra. De morte morrida e matada, para sempre.
(Jaime
Cimenti)
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