quarta-feira, 19 de setembro de 2012



19 de setembro de 2012 | N° 17197
ARTIGOS - Jayme Eduardo Machado*

Vota, vovô!

Essa chamada institucional da Justiça Eleitoral veiculada na mídia, em que a voz de uma idosa conclama a votar, é um hiato de inteligência na generalizada mediocridade em tempos de propaganda eleitoral. É necessária porque uma eleição não pode prescindir do eleitor experiente. E é eficaz porque, ao dizer “...agora é só com ficha limpa”, enfraquece o principal argumento dos que, aos 70 anos, têm legitimado o direito à omissão: a desilusão com a política pela decepção com os políticos.

E, se lhe pedirem para dizer o que distingue, sob tal enfoque, o jovem que vota aos 16 do velho que deixa de votar aos 70, não titubeie na resposta. São ambos cidadãos com idênticos direitos cívicos. Mas o jovem da primeira votação é um eleitor apto a ser iludido pelos candidatos que poderá eleger, enquanto o velho do último voto é alguém desiludido com os que já elegeu.

Enfim, é tudo uma questão de tempo. Perdoem-me os eleitos de exceção, mas os senhores fogem à regra, não entram nessa conta, são a minoria digna. A maioria é a outra, a que só se preocupa em como fazer para higienizar a ficha a que a velhinha se refere naquela propaganda. É por isso que não é o tribunal eleitoral que está chamando. A verdadeira cidadania é que necessita que continuemos votando, vovôs e vovós do Brasil!

Não há como negar que, especialmente na vida pública, 70 é um marco na cronologia de qualquer um, mas talvez prematuro. Assim, lamentamos quando alguns atingem os 70 em atividades em que tal limite não pode ser excedido.

É o caso da saída do ministro Cezar Peluso do Supremo Tribunal Federal, logo agora que o enredo das sessões da tarde na TV Justiça começa a empolgar. E a do Ayres Britto? Já sentimos o gosto amargo de berinjela crua (?) pela simples possibilidade de que esse ministro, que a idade só aprimorou, não possa completar seu valiosíssimo julgamento.

Para outros, infelizmente, apenas o céu – ou o inferno? – será o limite, e eles continuarão aí. E nós, jovens vovôs e vovós de 70, temos ainda que assistir a muitos desses parasitas mais que octogenários da política, sugando eleitores ingênuos e pobres das regiões mais miseráveis do Nordeste.

Outros, mais ao sudeste da geografia, exploram sua senilidade – esta, sim, indesejável – para escancarar alianças eleitorais esquisitas. Enfim, eles estão provando que ninguém é bom só por ser velho, mas você – basta querer! – pode provar que o velho eleitor é o melhor para a democracia. Porque, mais do que nunca, ela precisa da sua experiência.

Enfim, vovôs, às urnas! Atendam ao chamamento. Mantenham a sua ereção cívica fazendo do voto o seu estimulante eleitoral. Mais uma vez, a vovó vai aprovar e lhe fazer companhia.

*JORNALISTA, EX-SUBPROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

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