quarta-feira, 19 de setembro de 2012



19 de setembro de 2012 | N° 17197
ARTIGOS - Carlos Rivaci Sperotto*

A recessão anunciada

Na segunda semana de 2012, registramos o marco de 40 dias sem chuva nas regiões produtoras do RS. Os boletins da meteorologia contemplavam informações desanimadoras e os relatórios de perdas já consolidadas nos grãos não paravam de chegar ao departamento econômico do Sistema Farsul. Coube-nos a difícil missão de informar que, provavelmente, enfrentaríamos os cenários da seca talvez piores que os de 2005.

Enquanto segmentos da sociedade rio-grandense e porta-vozes de governos comemoravam o esplêndido resultado da economia gaúcha do ano anterior, puxado pelo excelente desempenho da agricultura – a Farsul convocou o seu conselho de representantes para dividir preocupações e avaliar o quadro ante as perspectivas que se desenhavam.

Respaldados em adequada metodologia, alertávamos – ainda nos primeiros dias do novo ano – quanto às perdas que os institutos de pesquisa revelariam alguns meses depois e as consequências econômicas, em termos de PIB, que a Fundação de Economia e Estatística (FEE) confirmou: o RS entrou tecnicamente em recessão! O PIB do segundo trimestre afundou – nada menos do que -6,8% em relação ao igual período de 2011 e já acumula recuo de -4,1% no primeiro semestre de 2012, confirmando, portanto, estimativas desta casa.

Ignorando aqueles que consideraram exagerado nosso alerta e colocaram em dúvida o cenário prospectado por nós, construímos o que chamamos de medidas anticíclicas – sendo fundamental o apoio técnico e político das federações empresariais. Elencamos medidas de alto relevo técnico que, antes de tentar resolver o problema do produtor, mitigavam as fortes perdas na economia do Estado.

A pressa e preocupação não ocorreram por acaso. Para perceber o quanto a estiagem é danosa na vida dos gaúchos no longo prazo, basta observar seu efeito no desempenho da renda per capita. Se a renda crescer à taxa média atual, levaremos 34 anos para que dobre.

Se nos anos de estiagem tivéssemos crescido à taxa idêntica do Brasil, ou seja, suprimindo a estiagem – a renda per capita dobraria em 22. Significa 12 anos a menos de que o tempo que precisamos atualmente e dois anos menos do tempo que o Brasil necessita para dobrar sua renda. Esse é o tempo que o RS fica para trás e que tem se refletido negativamente nos níveis de educação, saúde, segurança, previdência, qualidade de vida etc., como a imprensa tem divulgado.

Impõe-se que haja definição urgente quanto aos marcos regulatórios que permitam a utilização de técnicas de irrigação com cuidado ao meio ambiente. E que haja celeridade de parte das autoridades diante da estiagem, dando ao produtor não somente condições para pagar o passivo, mas promover estabilidade econômica. Do contrário, nos acostumaremos a ver o RS ficando para trás, quando poderia andar à frente do Brasil e de muitas economias mundo afora não fossem as estiagens.

*PRESIDENTE DO SISTEMA FARSUL

Nenhum comentário: