10
de setembro de 2012 | N° 17188
PAULO
SANT’ANA
O ardil de
Luxemburgo
Tenho
sofrido tantas moléstias graves com aspecto amplo que a convivência permanente
com elas nos últimos 18 meses está me fazendo crer que a doença é a minha única
saúde.
Mais
ou menos como o Groucho Marx: não tolero nem me relaciono com mulheres que são
capazes de me amar.
Estou
obcecado por viver sozinho.
Muitos
leitores me escrevem para saber por que não me refiro às chances que o
Internacional tem de ganhar este campeonato brasileiro, enquanto sobre as
chances do Grêmio frequentemente me refiro.
Perdoem-me,
mas não gosto de discorrer sobre hipóteses remotas.
Delicio-me
ouvindo as falas do Vanderlei Luxemburgo nas entrevistas coletivas logo após os
jogos.
Ele
é muito inteligente, já conversando com ele em uma churrascaria esses dias eu
pude ainda mais perceber que é um homem intelectualmente articulado.
No
entanto, toda a estratégia retórica que usa nas entrevistas se dirige para
defender-se de qualquer erro por decisões que tenha cometido e que possam ter
sido determinadas por alguma deficiência profissional sua.
Por
exemplo, logo após a derrota gremista de sábado passado, Luxemburgo passou a
entrevista inteira elogiando o Corinthians, como que querendo dizer com isso
que o fator decisivo para a vitória dos paulistas foi a qualidade do time
vitorioso, e não os defeitos individuais ou coletivos do Grêmio.
Com
isso, Luxemburgo absolveu com esperteza a si próprio e ao time que dirige pela
péssima atuação gremista, que começou entrando em campo com o fito de empatar e
ficar esperando o Corinthians na metade gremista do campo.
Uma
errada concepção de jogo que tem a ver com o treinador e mais ainda lamentável
porque o adversário estava com inúmeros desfalques, ou seja, era a hora de o
Grêmio aproveitar-se disso, e Luxemburgo concretamente obrou nesse equívoco
fatal.
Como
escuto o Luxemburgo com religiosidade, fruto de minha admiração por seus
atributos, colo o rádio no ouvido para ouvi-lo.
Nas
mesma entrevista de sábado, Luxemburgo jamais elogiou o técnico do Corinthians,
Tite. Em nenhum momento.
É
logico, no instante em que elogiasse Tite por acaso, estaria dando a entender
que o treinador adversário tinha batido-o em campo, vencido-o em estratégia
naquele jogo.
Sem
elogiar Tite e com elogios profusos ao Corinthians, Luxemburgo tentava dizer a
todos que o adversário era melhor do que o Grêmio que ele dirige, o que se
constitui num absurdo, já que o Corinthians atuou com seis reservas nesse jogo
contra o Grêmio.
A
gente ouviu o Luxemburgo após as sete derrotas do Grêmio neste campeonato e se
sai convencido por ele que os eventuais reveses gremistas em nada podem ser
atribuídos ao treinador tricolor, ou seja, Luxemburgo se torna, assim, no mais
brilhante e astuto advogado de defesa de si próprio.
O
Luxemburgo é muito inteligente, mas passa-lhe despercebido que entre os seus
ouvintes também existem pessoas inteligentes que percebem quando estão sendo
iludidas por ele.
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