13
de setembro de 2012 | N° 17191
PAULO
SANT’ANA
Casamento e separação
Uma
letra de música muito gostosa: “Sorriu pra mim/ não disse nada porém/ fez um
jeitinho de quem quer voltar”.
Para
quem quer que a outra pessoa volte, ela “fazer um jeitinho de quem quer voltar”
causa uma esperançosa e deliciosa sensação.
Tenho
um amigo que se separou há meses de sua mulher. E começou em seguida um namoro
sério com outra.
Ocorre
que meu amigo, mesmo que não o perceba nitidamente, continua apaixonado pela
sua ex-mulher.
Mas
as relações humanas são tão intrincadas, que meu amigo, ao separar-se de sua
primeira mulher, sentiu muita pena dela.
Agora,
como há a perspectiva de retorno de meu amigo para a ex-mulher, apareceu junto
um obstáculo: meu amigo acha que, se voltar ao casamento antigo, sentirá imensa
compaixão por sua namorada atual.
Os
homens de coração mole não têm aptidão pro amor. Eles se movem pela piedade,
quando para ser feliz no amor deve-se adotar comportamento pragmático: deu,
deu; não deu, até logo. Ficar remoendo pena é indicativo de que tomará uma
decisão errada.
É como
sempre diz o meu amigo Antônio Olavo dos Santos, casar é fácil, difícil é separar-se.
Nunca
vi alguém dizer que casar-se é difícil. Basta uma paixão, um tesão, e, pronto,
está feito o desastre do matrimônio. Depois vêm o fastio, as desavenças, as
chamadas incompatibilidades de gênios e em seguida o maior desastre de todos, a
separação.
Eu
tenho uma amiga que se casou e depois se separou. Agora está casada novamente. E,
quando perguntam a ela num banco ou numa repartição qualquer, para fim de
cadastro, qual seu estado civil, ela responde que é separada.
Eu
me espanto e indago a ela por que, sendo casada, ela responde que é separada.
Ela
me diz que já foi separada, mas hoje a sua condição de casada é muito menos
marcante para ela do que a separação.
Pelo
raciocínio dela, sendo casada hoje, pode separar-se amanhã, mas nunca sairá do
seu coração aquela marca inapagável da separação: a marca da dor. Ela luta para
ver se apaga a lembrança da separação de sua memória mas não consegue.
Ela
acha, portanto, que o estigma da separação é muito mais forte e profundo que a
esperança de que possa dar certo o novo casamento.
Portanto,
o casamento, que é um prazer, não raro se torna uma dor, um sofrimento, na
separação.
Um
dia escrevi aqui uma frase, modéstia à parte, inesquecível: “Pior que o
casamento, só a separação”.
Há uns
amigos que me dizem que é muito triste a separação. Eu lhes respondo que é mais
triste o casamento. Porque o casamento traz consigo intrínseco o risco da
separação.
E o único
risco que a separação encerra é de um novo casamento.
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