23
de setembro de 2012 | N° 17201QUASE PERFEITO |
Fabrício
Carpinejar
Retroceder
jamais
“Tenho
31 anos, um filho de 10, e moramos juntos com minha namorada há seis anos. De
repente, surgiu a vontade de ir morar só com meu filho. Não pretendo terminar o
relacionamento, apenas quero viver no meu canto, ser mais independente. É
egoísmo? Isso pode dar certo? Beijos, Heloísa.”
Querida
Heloísa,
Esta
é a encruzilhada: recuar no relacionamento sem sacrificá-lo. Você pretende
morar sozinha depois de seis anos. Quais os motivos? É necessário explicar
muito bem e várias vezes para a atitude não ser compreendida como deserção.
Não
há incompatibilidade no momento, brigas e ruídos, o que complica o entendimento
da companhia.
Vocês
formam uma família. A mudança representa uma mudança de rotina para o filho. Já
projetou como seria dividir as tarefas entre duas residências, duas vidas e
ainda conciliar namoro, trabalho e maternidade?
O
que desejo dizer com esses questionamentos: acho que você deseja se separar e
não pretende assumir a bronca. Criou uma transição diplomática para acomodar as
forças contrárias e sair por cima. É um modo de se afastar pouco a pouco para
se separar definitivamente ao final.
É evidente
que o relacionamento vai esfriar. Ela terá desconfiança de seus sentimentos a
partir de agora.
O
amor não aceita menos do que já recebeu. Nunca.
Será
que não ambiciona uma relação sem trabalho, apenas com o prazer no final de
semana? Uma relação sem as dificuldades de convivência? Não será um amor
preguiçoso que se pretende adolescente toda a vida?
Independência
não é isolamento, mas também é dividir o teto com alguém e manter sua
individualidade. Independência também é casamento.
É
não ser sufocado pelas diferenças, nunca abandonar ou cair fora.
O
noivado é um altar movediço
“Tenho
um amigo muito querido que conheci no final da faculdade. Desde então, mantemos
contato diário, eis que trabalhamos juntos. Ele é casado há sete anos; eu sou noiva.
Esses dias, enquanto conversávamos, ele acabou me beijando e eu correspondi.
Ficamos apenas uma vez. Sei que ambos somos comprometidos, mas confesso que
gostaria de ficar com ele novamente. Estou perdida num turbilhão de dúvidas.
Maria Teresa
Querida
Teresa,
O
noivado é um poço de intrigas. Uma tensão amorosa. Um festival de desculpas.
É a
fase mais delicada e perigosa de uma relação, rica em desmanche de casais.
Purgatório que criamos para manter o envolvimento do namoro e acalentar promessas
de paraíso.
É
como experimentar uma perturbadora tomada de decisão: será que me entrego para
um único sujeito ou permaneço solteira para desfrutar de outras opções? Será
que tomo uma história conjunta ou sigo com minhas alternativas de carreira e
viagens sem ninguém para me incomodar?
O
noivado é fatalista. Existe para não se casar, em vez de ajudar o enlace.
Apesar do avanço do comportamento, temos a ideia do casamento para o resto da
vida e pretendemos fugir dessa condenação com o primeiro que surgir em nossa
frente. Você está vulnerável, fragilizada, pois está contaminada pelo complô
romântico de que não há como desistir depois.
Então,
para se ver livre da escolha, vem forçando um caso. Transferiu a
responsabilidade para o colega de trabalho. Houve apenas um beijo, e já
desenvolveu uma saída romanceada para largar os compromissos, já sofre de
palpitações, já tem vontade de desabafar para seu noivo e contar a verdade.
Extremou ao máximo um flerte, exagerando sua importância, criando pretextos
para romper o noivado.
Na
sua mente idealizada, elaborou a seguinte defesa: é mais justo desistir de um
noivado por um amor verdadeiro.
Sua
imaginação não está permitindo que a memória desenvolva lembranças.
Seja
fiel a si mesma: você não está amando seu noivo. Não case por dote social.
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