sábado, 22 de setembro de 2012



23 de setembro de 2012 | N° 17201QUASE PERFEITO |
Fabrício Carpinejar

Retroceder jamais

“Tenho 31 anos, um filho de 10, e moramos juntos com minha namorada há seis anos. De repente, surgiu a vontade de ir morar só com meu filho. Não pretendo terminar o relacionamento, apenas quero viver no meu canto, ser mais independente. É egoísmo? Isso pode dar certo? Beijos, Heloísa.”


Querida Heloísa,

Esta é a encruzilhada: recuar no relacionamento sem sacrificá-lo. Você pretende morar sozinha depois de seis anos. Quais os motivos? É necessário explicar muito bem e várias vezes para a atitude não ser compreendida como deserção.

Não há incompatibilidade no momento, brigas e ruídos, o que complica o entendimento da companhia.

Vocês formam uma família. A mudança representa uma mudança de rotina para o filho. Já projetou como seria dividir as tarefas entre duas residências, duas vidas e ainda conciliar namoro, trabalho e maternidade?

O que desejo dizer com esses questionamentos: acho que você deseja se separar e não pretende assumir a bronca. Criou uma transição diplomática para acomodar as forças contrárias e sair por cima. É um modo de se afastar pouco a pouco para se separar definitivamente ao final.

É evidente que o relacionamento vai esfriar. Ela terá desconfiança de seus sentimentos a partir de agora.

O amor não aceita menos do que já recebeu. Nunca.

Será que não ambiciona uma relação sem trabalho, apenas com o prazer no final de semana? Uma relação sem as dificuldades de convivência? Não será um amor preguiçoso que se pretende adolescente toda a vida?

Independência não é isolamento, mas também é dividir o teto com alguém e manter sua individualidade. Independência também é casamento.

É não ser sufocado pelas diferenças, nunca abandonar ou cair fora.

O noivado é um altar movediço

“Tenho um amigo muito querido que conheci no final da faculdade. Desde então, mantemos contato diário, eis que trabalhamos juntos. Ele é casado há sete anos; eu sou noiva. Esses dias, enquanto conversávamos, ele acabou me beijando e eu correspondi. Ficamos apenas uma vez. Sei que ambos somos comprometidos, mas confesso que gostaria de ficar com ele novamente. Estou perdida num turbilhão de dúvidas. Maria Teresa

Querida Teresa,

O noivado é um poço de intrigas. Uma tensão amorosa. Um festival de desculpas.

É a fase mais delicada e perigosa de uma relação, rica em desmanche de casais. Purgatório que criamos para manter o envolvimento do namoro e acalentar promessas de paraíso.

É como experimentar uma perturbadora tomada de decisão: será que me entrego para um único sujeito ou permaneço solteira para desfrutar de outras opções? Será que tomo uma história conjunta ou sigo com minhas alternativas de carreira e viagens sem ninguém para me incomodar?

O noivado é fatalista. Existe para não se casar, em vez de ajudar o enlace. Apesar do avanço do comportamento, temos a ideia do casamento para o resto da vida e pretendemos fugir dessa condenação com o primeiro que surgir em nossa frente. Você está vulnerável, fragilizada, pois está contaminada pelo complô romântico de que não há como desistir depois.

Então, para se ver livre da escolha, vem forçando um caso. Transferiu a responsabilidade para o colega de trabalho. Houve apenas um beijo, e já desenvolveu uma saída romanceada para largar os compromissos, já sofre de palpitações, já tem vontade de desabafar para seu noivo e contar a verdade. Extremou ao máximo um flerte, exagerando sua importância, criando pretextos para romper o noivado.

Na sua mente idealizada, elaborou a seguinte defesa: é mais justo desistir de um noivado por um amor verdadeiro.

Sua imaginação não está permitindo que a memória desenvolva lembranças.

Seja fiel a si mesma: você não está amando seu noivo. Não case por dote social.

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