27 de setembro de 2012 |
N° 17205
LETICIA WIERZCHOWSKI
A ansiedade nossa de cada dia
As pessoas têm pressa, e cada vez
mais. Você fala com os outros por aí, e o papo recorrente é “Estou correndo
tanto!”. Temos vidas cheias: filhos, trabalho, uma provável rotina de
atividades físicas, encontros sociais, cuidados com a casa e a família. Além
disso, contas no Facebook e no Instagram também exigem uma certa manutenção...
Eu ando pela cidade e percebo que
as pessoas, mais do que apressadas, estão ansiosas. Tenho comigo o seguinte:
corremos tanto não apenas pelo acúmulo de tarefas cotidianas, mas induzidos por
uma ansiedade que cresce cada vez mais, multiplicando-se a olhos vistos como
aqueles velhos “bichinhos de fazer iogurte” que a minha mãe tinha num pote em
cima da geladeira lá de casa. Ninguém mais aguenta esperar por quase nada. É
tudo para já, para ontem. Até mesmo a maternidade – último bastião da
serenidade e da paciência – vem sofrendo sérios abalos.
Cesáreas aos borbotões. Está
certo que muitas parturientes acabam na cesárea por problemas como falta de
dilatação ou posição fetal delicada para um parto normal, mas conheço muitas mulheres
por aí que, antes do sexto ou sétimo mês, já tinham suas cesáreas agendadas
“porque assim tudo ficava mais calmo”. E o cúmulo foi uma conhecida minha
(famosa, aliás) que marcou a cesárea do filho em função do mapa astral que
desejava para a criança. Ah, bom!
Pobres mamães angustiadas, não
sabem ainda que colocar um filho neste mundo é simplesmente nunca mais ter
certeza de nada, mas passar o resto da vida duvidando das próprias asserções e
remarcando compromissos. Porque um filho não vem com programa: um belo dia, sem
data agendada, ele vai finalmente sorrir, vai dar os primeiros passos, vai
perder o primeiro dentinho e, se você não estiver por perto, baubau.
A ansiedade dos nossos tempos se
reflete no trânsito. Quem espera 10 segundos para que um pedestre chegue ao
outro lado da faixa de segurança? Quem deixa o celular na bolsa ou na pasta
enquanto dirige? Quem passa um dia inteiro sem meter a mão na buzina? Todos têm
que fazer tudo ao mesmo tempo, e quanto mais rápido melhor. No banco traseiro
do carro, nossos filhos aprendem a lição. Não adianta ter o mapa astral mais
auspicioso do mundo, quando papai e mamãe passam o tempo todo dando mau exemplo
por aí, em cada esquina da cidade.
Dia desses, no estacionamento do
colégio do meu filho mais velho, depois de buzinar feito louca durante cinco
eternos minutos, uma mãe alterada abriu a janela do seu carro e despejou, aos
brados, um turbilhão de desaforos para um pai que, momentaneamente, por conta
da confusão geral do estacionamento, trancou-lhe a passagem. Não creio que
tenha colocado nada daquilo que disse (com o filho por testemunha no banco
traseiro) no seu Face. Mas eu vi. Muita gente viu.
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