ELIANE
CANTANHÊDE
Heterodoxia cá e lá
BRASÍLIA
- O Supremo parecia recuperado das crises, mas teve uma recaída ontem, com um
novo bate-boca entre o relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski
e uma pitada adequada de ironia por parte de Gilmar Mendes.
Segundo
ele, citar entrevista de delegado a jornal em favor do réu, como fez
Lewandowski, é bastante "heterodoxo". Ao que o relator reagiu: para
ele, o próprio julgamento do mensalão não está sendo "dos mais ortodoxos".
Uma crítica e tanto, que macula o processo.
Esse
clima beligerante, com troca de ironias e acusações -ou "jogo de intrigas",
como acusou Joaquim- tende a piorar quanto mais o julgamento avança, a tendência
de condenações em massa se confirma, José Dirceu e José Genoino jogam a toalha
e o mensalão entra definitivamente na campanha mais nervosa do país, a de São
Paulo.
Como
previsto, o julgamento e a eleição estão se entrelaçando. Mas as campanhas
parecem tatear no escuro, pois não dá para saber ainda qual o potencial de
estrago dos esquemas descritos no STF na disposição dos eleitores.
É mais
razoável atribuir o fraco desempenho do PT em Recife e Belo Horizonte, por
exemplo, à força dos padrinhos locais -Eduardo Campos (PSB) numa e Aécio Neves (PSDB)
na outra- do que ao desgaste causado pelo mensalão em disputas com características
tão peculiares como as municipais. São Paulo, porém, sempre foge aos padrões.
Com
o E.T. Russomanno cristalizado na dianteira, Serra e Haddad disputam palmo a
palmo quem vai para o segundo turno e entram no vale-tudo. Nesse contexto, o
mensalão cai como uma luva para os ataques tucanos, mas há enormes riscos: em
vez de se beneficiar, Serra pode estar reforçando o desgaste mútuo do PT e do
PSDB e, assim, favorecendo indiretamente Russomanno, o "novo". Afinal,
o mensalão não é exclusividade do PT.
elianec@uol.com.br
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