ELIANE
CANTANHÊDE
Um inferno
BRASÍLIA
- Um assalto não é um episódio em si, é só um começo. Uma vez vítima de
bandidos, você cai nas mãos da burocracia, dos bancos, das greves. Meu assalto
faz um mês hoje. O carro apareceu, mas continuo sem nenhum documento.
Existe
um troço chamado "Na Hora", cuja finalidade é emitir documentos, mas
não consegui tirar nenhum. Identidade? Não pode, a Polícia Civil está em greve (aliás,
até hoje). Habilitação? Não pode, precisa documento com foto, mas o "Na
Hora" não aceita o passaporte que eles mesmos emitem. Alô, alô, Kafka!
Contei
uns 40 funcionários à toa. Era sábado, eles devem ganhar um extra para não
fazer nada. Ah! E, no Detran, o passaporte vale, sim, para a CNH. Dei entrada
na última sexta.
Depois
do fiasco do "Na Hora", a polícia achou alguns documentos meus. Demorou
15 dias para fazer a perícia. Quando recebi, só tinha cartões supérfluos (livraria,
seguro, plano de saúde...) ou inúteis (de bancos, já cancelados).
O
Bradesco/PJ só faz novo cartão se você for lá pessoalmente. Recebi o meu na sexta,
13, e os bancos entraram em greve na segunda. Sem o anexo com os números-código,
não desbloqueio o cartão, não uso a internet nem o caixa automático -e as agências
estão fechadas.
Há também
a batalha com a seguradora do carro, que se livrou de me dar um novo, mas tenta
escapar de me pagar o conserto de arranhões, a limpeza e a higienização.
No
meio disso tudo, minha empregada, com suspeita de dengue, desembolsou R$ 240
para fazer exames. Pelo serviço público, demoraria 15 dias, no mínimo.
O
pior foi com a minha mãe, que tem dois planos de saúde. Ela fez um cateterismo
de urgência no dia 6 e precisa de uma cirurgia logo, pois pode ter um enfarte a
qualquer hora. O plano enrolou, a cirurgia foi adiada para esta semana -espera-se.
Dizem
que ser brasileiro é como ser mãe: padecer no paraíso. Mas cadê o paraíso, não é,
Marion Strecker?
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