terça-feira, 25 de setembro de 2012



25 de setembro de 2012 | N° 17203
DAVID COIMBRA

Amor de mãe

O torcedor do Atlético Mineiro abriu, no meio da arquibancada fremente do Independência, um painel em que estava representada uma cena de amor filial entre Ronaldinho e Dona Miguelina. Foi pouco antes do jogo de domingo, isso, a TV mostrou.

E, um minuto depois, a TV procurou o rosto de Ronaldinho, e ele parecia mesmo tocado, o ar lhe vinha do fundo do peito e na testa havia rugas que ainda não lhe foram cavadas em seus 32 anos de idade. Mais um tanto, um repórter perguntou-lhe o que sentia a respeito, e ele disse que queria retribuir a homenagem com grande atuação e, se possível, gols.

Ronaldinho de fato jogou bem, craque que é. Não houve gols porque a defesa do Grêmio estava alerta e bem orientada. Mas o mais interessante foi a intenção da homenagem. O torcedor queria emocionar Ronaldinho e, assim, motivá-lo para o jogo. Para tanto, investiu em um painel que não deve ter sido barato nem fruto de pouco trabalho, e usou o que é sabidamente mais caro ao jogador: o amor que ele sente por Dona Miguelina.

Não é prova de afeto do torcedor por Ronaldinho.

Também não é prova de apreço do torcedor pela relação entre filho e mãe.

Não é prova nem de respeito do torcedor pelos sentimentos do jogador.

É prova da craqueza de Ronaldinho. Nenhum pata dura, por melhor filho que seja, ganha esse tipo de afago da arquibancada.

Nenhum outro sentimento

Freud dizia que não existe, nas relações humanas, amor igual ao que sente a mãe pelo filho homem. Nenhum outro sentimento é tão poderoso. E o objeto deste amor, é evidente, caminha pelo mundo sentindo a segurança de tê-lo na base da sua personalidade.

Ser filho de Dona Miguelina é muito do que é Ronaldinho.

O centro no centro

Ronaldinho é o centro do time do Atlético Mineiro porque ele está no centro do time do Atlético Mineiro. Essa talvez tenha sido a grande obra de Cuca em Belo Horizonte: puxou Ronaldinho das sombras da ponta-esquerda para o iluminado meio da intermediária ofensiva. Ali ele levanta a cabeça e vê o campo inteiro e o time se abre para a sua bola certeira e ele pode ser decisivo, não apenas acessório.

Para um jogador habilidoso é confortável saber que, às suas costas, há a linha lateral e não um inimigo rosnante. Mas, para o time, o melhor é que o habilidoso se movimente pelo centro da ação e, assim, seja também ele o centro da ação.

O centro do Grêmio

Kleber, no Grêmio, poderia prestar atenção ao que ocorreu com Ronaldinho. Kleber tem habilidade para reter a bola e força para suportar o assédio dos zagueiros.

Mas está jogando na ponta-esquerda, à margem do jogo, onde tudo o que acontece sempre será menos do que pode acontecer no meio. Kleber tinha de sair da segurança do flanco e ir para o bolor, para o meio da batalha, lá onde se terçam espadas.

A peça mais importante

Quem joga xadrez sabe: vence a partida quem domina o centro do tabuleiro, e dominará o centro do tabuleiro quem lá embutir suas peças fortes, uma das agressivas torres, quem sabe um bispo com seus ataques em diagonal ou um cavalo com seus saltos em ele. Certo. Mas o melhor, realmente, é se a dama estiver posicionada no centro. A dama é a peça mais importante, é a que tem mais recursos, é a que pode mais. Ronaldinho é a dama do Atlético; Kleber a do Grêmio. E a dama tem de estar no meio.

O patrão

Fernandão granjeou o apoio da torcida ao expor os jogadores do Inter em público não por ter sido ídolo do time até anteontem. Foi porque ele fez a cobrança do valor mais prezado pelo torcedor: dedicação. No futebol, o torcedor é consumidor; no clube, o torcedor é patrão.

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