segunda-feira, 17 de setembro de 2012



17 de setembro de 2012 | N° 17195
L. F. VERISSIMO

É luxo só

Vá entender. Em meio à crise financeira que assola o mundo, o único comércio que cresce e prospera é o de artigos de luxo. As grandes grifes nunca venderam tanto, publicações caras dirigidas a um público com sobra de dinheiro se multiplicam e tem cada vez mais gente comprando jatinhos executivos para combinar com seus iates.

A compulsão do consumo conspícuo é tamanha, que criou um problema inédito: como inventar coisas que se destaquem, pela exclusividade, num mercado em que o luxo se banaliza rapidamente e em que donos de Mercedes último tipo são obrigados a andar com um adesivo que diz “Meu outro carro é um Lamborghini”?

O uísque Johnny Walker é um exemplo desta busca incessante pelo cada vez mais exclusivo. Na sua forma original e acessível, tinha o rótulo vermelho. Depois, lançaram o Johnny Walker rótulo preto, mais caro e supostamente melhor. Depois, veio o rótulo azul, ainda melhor e mais caro do que o preto. Depois, o rótulo verde, uma depuração do azul. E agora existe o Johnny Walker rótulo ouro, feito para pouquíssimos – mas, dizem, vendendo muito bem.

Outro problema trazido pelo luxo banalizado é o que dar para o homem que tem tudo. Pode-se imaginar a angústia da mulher do homem que tem tudo à procura de um presente para lhe dar de aniversário. Um Porsche? Ele já tem dois. Um helicóptero? Muito barulhento. E então ela descobre a solução. Uma coisa pequeninha, mas que certamente nenhum dos amigos dele tem. Um cortador de pelinho do nariz feito de prata, que ela pede para ser personalizado com as iniciais dele.

Dizem que a sugestão da Maria Antonieta para que os pobres comessem brioches se faltasse pão apressou a Revolução Francesa. Não se pode imaginar que a notícia da existência de um cortador de pelinho do nariz prateado vá provocar uma reação popular parecida. Mas quem sabe se o cortador de pelinho do nariz prateado não seja o limite?

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