17
de setembro de 2012 | N° 17195
L.
F. VERISSIMO
É luxo só
Vá
entender. Em meio à crise financeira que assola o mundo, o único comércio que
cresce e prospera é o de artigos de luxo. As grandes grifes nunca venderam
tanto, publicações caras dirigidas a um público com sobra de dinheiro se
multiplicam e tem cada vez mais gente comprando jatinhos executivos para
combinar com seus iates.
A
compulsão do consumo conspícuo é tamanha, que criou um problema inédito: como
inventar coisas que se destaquem, pela exclusividade, num mercado em que o luxo
se banaliza rapidamente e em que donos de Mercedes último tipo são obrigados a
andar com um adesivo que diz “Meu outro carro é um Lamborghini”?
O
uísque Johnny Walker é um exemplo desta busca incessante pelo cada vez mais
exclusivo. Na sua forma original e acessível, tinha o rótulo vermelho. Depois,
lançaram o Johnny Walker rótulo preto, mais caro e supostamente melhor. Depois,
veio o rótulo azul, ainda melhor e mais caro do que o preto. Depois, o rótulo
verde, uma depuração do azul. E agora existe o Johnny Walker rótulo ouro, feito
para pouquíssimos – mas, dizem, vendendo muito bem.
Outro
problema trazido pelo luxo banalizado é o que dar para o homem que tem tudo.
Pode-se imaginar a angústia da mulher do homem que tem tudo à procura de um
presente para lhe dar de aniversário. Um Porsche? Ele já tem dois. Um
helicóptero? Muito barulhento. E então ela descobre a solução. Uma coisa
pequeninha, mas que certamente nenhum dos amigos dele tem. Um cortador de
pelinho do nariz feito de prata, que ela pede para ser personalizado com as
iniciais dele.
Dizem
que a sugestão da Maria Antonieta para que os pobres comessem brioches se
faltasse pão apressou a Revolução Francesa. Não se pode imaginar que a notícia
da existência de um cortador de pelinho do nariz prateado vá provocar uma
reação popular parecida. Mas quem sabe se o cortador de pelinho do nariz prateado
não seja o limite?
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