quarta-feira, 26 de setembro de 2012



26 de setembro de 2012 | N° 17204
CAPA - BOND CINQUENTÃO

Prestes a completar 50 anos no cinema, o charmoso agente secreto ganha filme e homenagens

Em 5 de outubro de 1962, o Piccadilly Circus de Londres recebeu uma das sessões de pré-estreia que sedia regularmente até hoje. O filme originalmente se chamava apenas Dr. No e, embora adaptasse uma das afamadas histórias do agente James Bond criadas pelo escritor Ian Fleming (1908 – 1964), tinha como protagonista o então pouco conhecido Sean Connery e sequer levava no nome o 007 que viria a carimbar a mais longa franquia da história do cinema.

Poucos dias depois, a primeira Bond girl, Ursula Andress, já seria tratada como a nova Marilyn Monroe, e o escocês Connery, então com 32 anos, mudaria para sempre seu status na cultura pop. Exatas cinco décadas, mais de US$ 5 bilhões arrecadados e 22 filmes depois (o 23º estreia no dia 26 do mês que vem), não apenas o primeiro ator que encarnou o agente mudou seu status: o próprio personagem se reinventou (na pele de outros seis intérpretes), resistiu até à morte de Fleming (John Gardner publicou 14 novas histórias além das escritas pelo criador de 007) e o culto dos fãs atravessou gerações, sobrevivendo ao fim da Guerra Fria e às mudanças geográficas, políticas e tecnológicas.

– Quando George Lucas lançou Guerra nas Estrelas, no fim da década de 1970, Bond foi para o espaço em 007 Contra o Foguete da Morte. Quando o traficante Pablo Escobar ficou popular, nos anos 1980, Bond enfrentou o tráfico em 007:

Permissão para Matar – comenta Marcos Kontze, auxiliar administrativo de 27 anos que mora em Santa Maria, é o criador e editor do site jamesbondbrasil.com e um dos administradores do fã-clube oficial do personagem no país. – James Bond sempre se manteve atual com as novas tendências, sem nunca perder a essência do personagem, sua elegância, seu senso de humor, suas belas mulheres, tudo misturado com seu sarcasmo inconfundível.

A efeméride será comemorada com o novo filme, 007: Operação Skyfall, dirigido por Sam Mendes (de Beleza Americana), protagonizado por Daniel Craig (que será 007 pela terceira vez), com uma Bond girl francesa (Berenice Marlohe) e um elenco estelar (Judi Dench será de novo M, e Javier Bardem, um vilão ao estilo Onde os Fracos Não Têm Vez). Além disso, os 50 anos serão festejados com o James Bond Day, que terá abertura de exposição e mostra retrospectiva, lançamento de documentário e outras atividades simultâneas, no próximo dia 5, em Londres, Nova York e Los Angeles.

– Acho que o apelo político não é o fator determinante para o fascínio do personagem e de suas histórias – diz o escritor Samir Machado de Machado, 31 anos, que recentemente descreveu sua obsessão pelos livros de Fleming em blogdosamir.blogspot.com.br. – Quando ele criou 007, a Inglaterra recém saía da escassez da guerra, e um cara que viajava pelo mundo nos melhores hotéis, pilotava os melhores carros e consumia as melhores comidas alimentava os sonhos de consumo daquela geração, como ainda alimenta a de hoje.

E há o fetiche. Várias fantasias masculinas estão projetadas nele, chauvinistas em essência, da mulher como algo frágil a ser protegido. Bond tem grande resistência à dor, tanto que é torturado com frequên­cia, o que resulta em alguém que vive entre a brutalidade e a elegância, algo que ecoa tanto em aspirações dos homens quanto em desejos das mulheres.

Se no cinema o personagem está chegando aos 50 anos, na literatura ele já completou 59. Só resiste, em ambos os casos, graças à sua eficácia como entretenimento – o que se resume, além deste apelo psicológico, à qualidade técnica, tanto numa linguagem quanto na outra. Em 22 longas, esta qualidade esteve invariavelmente presente. A ver no 23º.


DANIEL FEIX

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