02
de setembro de 2012 | N° 17180
PAULO
SANT’ANA
A pressa
médica
Reclamam-me
muitos leitores que comparecem a consultas médicas, pelo SUS ou por convênios,
de que os médicos não os examinam, nem os tocam.
Sei
disso mais do que o Eclesiastes. Recentemente, por esse vezo de os médicos não
examinarem seus clientes, decretaram falência e fecharam suas portas várias
fábricas de estetoscópios.
Antigamente,
todo médico que se avistava trazia o estetoscópio pendurado no pescoço.
Sabem
por que grande parte dos médicos não examina mais os pacientes, nem os toca?
Porque os médicos de hoje só sabem solicitar exames de seus clientes.
Os
laboratórios de análises clínicas e as clínicas radiológicas nunca ganharam
tanto dinheiro como hoje: claro, os médicos na sua maioria só sabem pedir
exames.
Um
hábito médico antigo era observado em todas as consultas, hoje tornou-se raro:
o médico portava o seu estetoscópio e escutava com ele as costas do paciente,
perscrutando os pulmões.
Depois
de perscrutá-los, dizia ao paciente: “Diga trinta e três”. Acabou: hoje não
mandam mais dizer nem onze, quanto mais trinta e três.
Há
alguns médicos que desprezam tanto examinar os pacientes, que já não colocam
cadeiras para seus pacientes sentarem nos consultórios, os pacientes são
atendidos de pé.
E as
macas que se viam em todos os consultórios já não se as veem mais.
Tudo
em nome da rapidez. Há médicos que recebem mais de 50 pacientes numa tarde. É
tudo no vapt-vupt.
O
diabo é que muitos convênios pagam muito pouco por consulta ao médico e este
precisa faturar. Então é na base do vapt-vupt!
Vai
daí que, pelas mesmas razões, muitos médicos nem olham os resultados dos exames
perante os clientes. Comentam os resultados pelo telefone.
Vocês,
meus leitores e leitoras, já pararam para analisar que vivemos o tempo da
pressa? E a medicina foi atingida infaustamente pela pressa.
Claro
que existem reações a esse sistema de pressa entre os próprios médicos.
O
gastroenterologista Luiz Edmundo Mazzoleni, por exemplo, marca todas as suas
consultas com duração de uma hora e meia cada. Antes de 90 minutos de duração
da consulta, ele não dispensa o cliente. Nem de apalpá-lo nem de conversar com
ele. E por isso só marca quatro consultas por dia.
Extraordinário
exemplo.
Não quero
condenar esses médicos que não examinam seus clientes. Sei que a medicina ficou
de um jeito, que determinados médicos, se não empunharem três ou quatro
empregos, não têm como se sustentar.
O
defeito está em que os empregos de médicos pagam muito mal a eles. O sindicato
dos médicos tem lutado muito contra essa grave distorção.
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