13
de setembro de 2012 | N° 17191
L. F.
VERISSIMO
O grande silêncio
É sempre
bom investigar a origem dos fatos e das palavras. Você pode descobrir coisas
surpreendentes. Por exemplo: o final abrupto de uma frase de jazz moderno,
vocalizado, soava algo como “be-ree-bop”. É daí que vem o nome do novo estilo
de tocar jazz, “bop”.
O “biribop”
foi usado numa música brasileira que falava da influência do novo jazz no samba
– “eba biribop”, lembra? – e não demorou para que o “biribop” do samba se
transformasse em “biriba” e acabasse sendo o nome do cachorro mascote do
Botafogo, segundo alguns um dos maiores responsáveis pela boa fase do time na época
– e nome de um jogo de cartas.
Hoje
quem joga biriba (ainda se joga biriba?) não desconfia de que tudo começou nos
clubes de Nova York onde alguns músicos faziam uma revolução que não tinha nada
a ver com o baralho.
A
procura de origens pode levar por caminhos errados, é verdade. Ainda no campo
da música: quando a bossa nova começou a ser tocada nos Estados Unidos, uma das
curiosidades dos nativos era o significado do termo “bossa”.
Quem
procurou num dicionário leu que “bossa” era a protuberância nas costas de um
corcunda, não podia estar certo. Aí alguém se lembrou de um LP gravado pelo
guitarrista Laurindo de Almeida nos Estados Unidos anos antes, junto com três
americanos, um saxofonista, um baterista e um contrabaixista, que incluía
ritmos brasileiros.
E
surgiu a teoria de que o disco do Laurindo de Almeida teria sido muito ouvido
no Brasil e a marcação do baixo nos sambas muito impressionara os músicos
locais. Claro, “bossa” era uma corruptela de “bass”, contrabaixo em inglês. Tudo
esclarecido. (Não foi a única injustiça que fizeram com o João Gilberto, o
verdadeiro criador da batida da bossa. Ainda inventaram que ele roubara o jeito
de cantar do Chet Baker.)
Mas
tudo isto, acredite ou não, tem a ver com o mensalão. Ouvi dizer que a origem
do esquema que está sendo condenado no Supremo é uma eleição em Minas que
envolveu alguns dos mesmos personagens de agora, só que o partido favorecido
foi o PSDB. Se a origem é esta mesmo, ou – como no caso da origem da bossa nova
– há um mal-entendido, não sei. Mas não deixa de surpreender a absoluta falta
de curiosidade, da grande imprensa inclusive, sobre esta suposta raiz de tudo. Só
o que há a respeito é um grande silêncio.
O
barulho com o esquema precursor mineiro ainda está por vir ou o silêncio
continuará até o esquecimento? É sempre bom investigar a origem dos fatos e das
palavras. Inclusive porque dá boas histórias.
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