Carlos Heitor
Cony
Astros e ostras
RIO DE JANEIRO - Retorno a um
assunto que abordei recentemente: a necessidade de um aprimoramento da
democracia representativa. Agora mesmo, uma pesquisa feita no Ceará e publicada
num jornal de Fortaleza revela que mais de 70% dos eleitores já foram abordados
por candidatos e seus cabos eleitorais que ofereceram dinheiro em troca de
votos. Desse total, uma porcentagem significativa topou a oferta.
Deve-se acrescentar a grande
parcela do eleitorado que troca o voto por benefícios específicos, promessas de
emprego, casa própria, tratamento de saúde e até dentaduras. Nada de admirar
que a corrupção escancarada no julgamento do mensalão, em diferentes níveis,
tenha chegado ao ponto a que chegou, com a compra de votos dos próprios
parlamentares para a formação de eventuais maiorias no Congresso.
Na presente campanha eleitoral
dos Estados Unidos, os astros democratas e republicanos já gastaram bilhões de dólares
arrecadados em forma de compromissos que deverão ser honrados pelos eleitos.
Não é caso para discutir a
democracia em si, mas a forma pela qual ela é exercida para legitimar o
exercício do poder. Afinal, o processo de votar -seja em cascas de ostras, como
na Grécia antiga (que consagrou a palavra "ostracismo"), seja em
cédulas de papel ou em impulsos nas urnas eletrônicas- precisa ser substituído
por outra forma de captar o poder que vem do povo, princípio fundamental da
própria democracia.
A humanidade chegou à Lua, ao
celular, ao transplante de órgãos e a outras façanhas julgadas impossíveis.
Seria o caso de juntar 10 ou 12 agraciados com o Nobel ou criar um prêmio
internacional (e bem substancioso) para o gênio ou o grupo de gênios que
bolasse outra forma de exercício democrático.
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