quinta-feira, 20 de setembro de 2012



20 de setembro de 2012 | N° 17198
PAULO SANT’ANA

Cantar para quê?

Gostei muito desta: “A gente percebe que está ficando velho quando decide que pretende namorar com alguém da nossa idade e vê que já morreram todas”.

Estou apavorado com a péssima qualidade na programação das redes nacionais de televisão no Brasil, no que se refere a programas de entrevistas e musicais.

Anteontem, fui assistir a um programa que vejo sempre há muito tempo, às 23h das terças-feiras, na TV Brasil, canal 3 da NET, chamado Samba na Gamboa. O apresentador é o cantor Diogo Nogueira, filho do grande e saudoso compositor e cantor João Nogueira.

Começa que Diogo Nogueira é ótimo intérprete mas não tem nenhuma propensão a entrevistador, nenhuma.

E, ainda por cima, anteontem, botou como um dos dois convidados um pianista que toca popular e erudito. Pois num programa de vocação popular, o pianista resolveu inclinar-se pelo erudito. Deu num desastre.

Além do mais, o pianista mais falou do que tocou. E, para mal dos pecados, se não parava de falar para contar sua biografia, coisa que não interessa a nenhum telespectador, também executou duas músicas que duraram cada uma seis minutos, o que é dose para mamute: aconselha-se sempre que qualquer música não dure mais de três minutos, nada mais.

Por outro lado, um grande entrevistador nacional da televisão brasileira, homem de grande talento, faz sempre três ou quatro entrevistas por programa. E sempre, infalivelmente, coloca como primeiro entrevistado no programa, ou uma atriz, ou um ator ou um diretor de teatro.

Ora, passar anos entrevistando gente de teatro em programa popular é um absurdo, eis que só 1%, talvez menos, do povo brasileiro frequenta teatro. Não é possível uma coisa dessas: em 99% dos programas é abordado o teatro. É um fato irritante, se verifica há anos e a direção do canal não se flagra de que isso espanta centenas de milhares de telespectadores.

Tudo bem que o apresentador do programa seja ator e diretor de teatro, mas é preciso que ele se conscientize de que os telespectadores não têm, de forma alguma, o mesmo pendor.

Nesses dois programas de que falei acima, outro defeito básico é o de que levam músicos e cantores para se apresentar como entrevistados e eles mais falam do que tocam, a gente louco para ouvir um grande cantor cantar, um grande músico tocar e eles levam 80% do tempo da entrevista falando. Isso é uma barbaridade.

Não tem nada mais chato que grande cantor ou grande músico dando entrevista: cavalo não desce escada e ovelha não é pra mato.

Eu vi num desses dois programas um dos maiores tocadores de cavaquinho do Brasil ficar com seu instrumento na mão esquerda durante quase 30 minutos, sendo apenas entrevistado e sem tocar o cavaquinho que eu ansiava para ouvir.

Tudo por causa da megalomania dos entrevistadores: eles percebem que, se insistirem entrevistando o músico e o cantor, ele, apresentador, terá mais chance de aparecer. E, se o músico e o cantor forem tocar ou cantar, o entrevistador tem de ficar calado, com o que ele não se conforma.

Está muito pobre a televisão brasileira em matéria de entrevistadores.

Mas o que fazem diante dessa catástrofe os dirigentes dos canais?

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