06
de julho de 2013 | N° 17483
CLÁUDIA
LAITANO
Uns por todos
Um
homem parado diante de uma frota de blindados perfilados produziu a imagem mais
poderosa dos protestos da Praça da Paz Celestial, em 1989. Uma multidão pode
estar certa ou errada, ser movida por ideias ou pela desrazão.
O
indivíduo que enfrenta algo maior e mais forte do que ele também pode estar
certo ou errado, mas sempre seremos levados a nos compadecer diante da enorme
fragilidade de um homem que combate sozinho. Um acaso e nem sequer
existiríamos, uma distração e deixamos de existir. Ainda assim, uma única
pessoa pode fazer toda a diferença no destino de uma causa ou de uma multidão
de gente.
Sempre
me ocorre a imagem do manifestante chinês quando penso na batalha cotidiana de
quem trabalha com cultura no Brasil. Em um cenário de poder público errático,
raros mecenas e centralização de recursos nas grandes metrópoles, o papel da
iniciativa pessoal acaba sendo decisivo. Seja dentro dos precários canais
convencionais, seja operando de uma forma completamente alternativa, como a
rede de coletivos Fora do Eixo.
Por
trás das histórias de sucesso da maioria dos empreendimentos culturais do país,
há a figura de um manifestante chinês que se postou diante dos tanques da falta
de grana, de informação, de política cultural, de planejamento, de público.
Desse
enfrentamento insistente, criativo, ousado, surgem projetos que podem alterar
todo um circuito de público, mercado e produção.
Luciano
Alabarse com o Em Cena, Tania Rosing com a Jornada de Passo Fundo, Eva Sopher
com o Theatro São Pedro, Bernardo de Souza e Marcos Mello na Coordenação de
Cinema e Vídeo da SMC, Fábio Coutinho no Margs e depois na Fundação Iberê
Camargo, Liliana Magalhães no Santander Cultural, Fernando Ramos na FestiPoa,
sem falar das turmas que atuam somando esforços e talentos, como o pessoal dos
festivais Cine Esquema Novo e Fantaspoa e os coletivos musicais que começam a
pipocar na cidade.
São
muitos os exemplos aqui no Rio Grande do Sul, desde a época em que o jornalista
Say Marques teve a ideia de instalar umas banquinhas na Praça da Alfândega para
vender livros – inspiração do fenômeno tipicamente gaúcho da disseminação de
feiras do livro pelo interior do Estado.
O
fato de um evento ou instituição tornar-se identificado com uma pessoa ou um
pequeno grupo acontece no mundo todo. Em países com mais tradição cultural,
porém, o talento surge em meio a um sistema capaz de dar continuidade e mesmo
ampliar o alcance de um trabalho bem feito. No Brasil, a descontinuidade é a
regra, e fenômenos longevos como a Feira do Livro, a exceção. Assim como nos
orgulhamos de um teatro, de um evento, de um centro cultural que funciona,
tememos pela sua sobrevivência. Nossa única tradição consistente parece ser a
de sermos eternamente provisórios.
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