CÁSSIO STARLING CARLOS - CRÍTICO DA FOLHA
Filme
convencional, "O Lado Bom da Vida" vibra graças aos atores
Indicado a oito Oscar, longa se entrega a um romantismo
banal, mas explora ao máximo a capacidade de seu elenco
A ASTÚCIA CONSISTE EM BANALIZAR A PERTURBAÇÃO, TRAZER O DISTÚRBIO
PARA O COTIDIANO
Para um filme de amor dar certo, antes bastava juntar um
cara carente e uma garota bonita, às vezes solitária, ou vice-versa, temperar
com um pouco de dificuldades e, pronto, funcionava a receita de abraços e
beijos na medida para suprir nossa fome de afeto.
"O Lado Bom da Vida" mostra que aquela fórmula não
foi superada, mas exige um pouco mais de amargor.
Agora o príncipe é maníaco-depressivo e a princesa, ninfomaníaca,
depois de viverem perdas que justificam a descompensação. Nada muito grave,
apenas o bastante para fazê-los parecidos com gente como a gente.
A astúcia da adaptação para o cinema do best-seller de
Matthew Quick consiste em banalizar a perturbação, trazer o distúrbio para o
cotidiano, afastando-o da experiência de exceção.
Afinal, hoje, quando qualquer melancoliazinha já vira
depressão, não conseguimos definir os limites onde começa e acaba a tal
normalidade.
Ou seja, o que Pat (Bradley Cooper) e Tiffany (Jennifer
Lawrence) entregam de cara ao público é um espelho, uma afeição imediata
garantida pelo sentimento de quem reconhece: "Pô, eu já vivi isso!".
O diretor David O. Russell, que se destacou no terreno do
cinema indie nos anos 1990, aproveita esse tipo de projeção com ângulos sempre
muito próximos, íntimos mesmo, dos corpos.
A imagem, em formato scope, absorve ainda mais o olhar, que
fica imerso em constantes closes, sem ter para onde escapar, refém da
desorientação de Pat e Tiffany.
A instabilidade da câmera na mão, mais que repetir o
estereotipado efeito de realismo, serve para enfatizar o distúrbio, captar a
turbulência de afetos.
Tais supostas liberdades de estilo, no entanto, não trazem
nada de novo ou original nem oferecem respiro para o convencionalismo, que se
impõe a partir do momento em que o filme se entrega a um banal romantismo.
A vantagem é que "O Lado Bom da Vida" de fato vibra
graças aos atores, explora ao máximo a capacidade deles de alcançar veracidade
ou exibir histrionismo.
Enfim, um filme que todo mundo quer ver na temporada de prêmios
e torcer pelo triunfo de seus intérpretes na noite do Oscar.
O LADO BOM DA VIDA
DIREÇÃO David O. Russell
PRODUÇÃO EUA/2012
ONDE Espaço Itaú - Augusta, Tamboré Cinemark e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
Nenhum comentário:
Postar um comentário