17
de fevereiro de 2013 | N° 17346
QUASE
PERFEITO | Fabrício Carpinejar
Longe de
você
“Estava
morando com meu ex-namorado, com quem tenho um filho de menos de um ano. Nos
separamos há alguns meses, e eu não deixei de amá-lo. Nos magoamos muito nessa
separação. Não houve traição, não houve briga, foi por causa da família dele.
Ele não tem outra pessoa, eu também não. Mas ele está relutante. Disse que não
quer voltar, pois está muito magoado. Sendo assim, será que ainda existe algum
meio de reconquistar a confiança e o amor dele?
Obrigada,
Angélica”
Querida
Angélica!
Mulher
tem o costume de conversar o que incomoda na relação com suas amigas. Seu amor
é pedagógico: vê com clareza as preocupações e paga o desconforto em dia. Não
atrasa as contas do afeto. No casamento, fala diretamente com o sujeito aquilo
que pressente, o que sente e o que teme. Com naturalidade. Não subestima sua
intuição, chega a reconhecer que seu medo é um fato (às vezes é). Se acha que
seu namorado está traindo, diz que está traindo mesmo sem provas.
Já o
homem, engole as contrariedades. Fala evasivamente com os colegas, não explica
direito suas mágoas para esposa. Nunca revela o seu descontentamento. Adia as
dívidas, que se acumulam até a hipoteca da relação. O sujeito, quando toma a
dianteira para discutir o relacionamento, é para terminar, jamais para
encontrar uma solução. A gota d’água é colírio masculino.
O
homem raramente acaba sem preparar uma segunda vida. Ainda mais quando tem um
filho envolvido. É uma saída de casa difícil e traumática, só admitida quando nasce
uma outra paixão.
Ele
aceitaria a reconciliação se fossem somente os desentendimentos e provocações
da separação. Quando amamos, a memória é o nosso desejo e esquecemos o que nos
machuca.
Ele
está relutante porque deve ter encontrado uma segunda namorada. Não apresenta a
atual companhia para não gerar ciúme e represálias. Nem digo que foi
infidelidade, mas interesse que coincidiu e cresceu com o aumento das
discussões do divórcio. Pulou fora após arrumar o bote salva-vidas.
Somos
maternais com o passado. Para sair de um casamento, só por um novo casamento.
Existe
um plano B que você não conhece e não desconfiou. Ele não entra em contato, não
procura, não sofre recaídas sexuais, não incomoda com mensagens e torpedos. A
independência dele é estranha. Jura que ficaria no seco durante esse tempo e,
na ausência de um caso, não lhe procuraria pela intimidade e cumplicidade
amorosa?
Não
é que permaneceu quieto pelo luto, por ter sofrido ou para se recuperar dos
dissabores da convivência recente. Calou-se porque encontrou uma felicidade
longe de você.
colunaquaseperfeito@gmail.com
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