ELIANE
CANTANHÊDE
Vai um cafezinho
aí?
BRASÍLIA
- Imagino o que você, médico (a), engenheiro (a), professor (a) ou arquiteto
(a) do serviço público, por concurso, sente ao saber que, no Tribunal de Contas
do Distrito Federal (TCDF), funcionários com o quarto ano do ensino fundamental
podem receber até R$ 12.820,51 e os de nível médio, até R$ 19.115,36.
Não
sabia? Pois fique sabendo. A mamata é resultado de uma lei local promulgada em
2 de janeiro, pela qual mais da metade dos servidores do tribunal pode ganhar
igual aos ministros do Supremo e à presidente da República.
Mas
o pior é o que devem sentir os aposentados do INSS. Ou os que pagam impostos
-e, portanto, os salários do serviço público. Ou, pior ainda, a grande maioria
de brasileiros que não têm alternativa senão recorrer a hospitais e escolas
públicas, onde jogam sua vida e o destino dos seus filhos nas mãos de profissionais
muitas vezes esfolados por baixas remunerações, altas responsabilidades e
estímulo zero.
Em
vez de atender pacientes, que tal servir cafezinho? Com todo o respeito a
copeiras, ascensoristas, porteiros e motoristas, não parece justo que eles, com
o ensino fundamental, ganhem duas, três, quatro vezes mais do que quem ralou no
ensino médio, no ensino superior, às vezes até com mestrado ou doutorado, e
também trabalha no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário.
Alguma
coisa está errada, em meio a tanta coisa que continua tão errada. Mas, nesse
caso, com uma particularidade que oscila entre ironia e deboche: os Tribunais
de Contas, como o próprio nome já diz, existem exatamente para zelar pelo bom
uso do dinheiro público e apontar desperdícios e superfaturamentos.
Se
um Tribunal de Contas é o primeiro a dar mau exemplo, a garantir desperdício e
a permitir superfaturamento de salários pagos pelo público, a quem se queixar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário