26
de fevereiro de 2013 | N° 17355
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
A causa do blogueira
Não
tenho muito a acrescentar ao debate sobre a visita de Yoani Sánchez ao Brasil: sou
cem por cento a favor de ela viajar, se manifestar, dar entrevista, escrever o
que bem lhe parecer, direitos que eu exerço com gosto e que desejo seja
partilhado por toda a humanidade; sou também a favor do direito de expressão
dos que não vão com a cara dela, seja por que motivo for, mas é claro que não
subscrevo a visão antidemocrática que preferiria que ela não pudesse dizer o
que diz sobre o regime cubano, que cerceia liberdades fundamentais. Igualmente,
lamento muito que Cuba não tenha sabido combinar avanços sociais importantes (saúde,
esporte, educação) com liberdades democráticas.
Yoani
nasceu em 1975 e ganhou este nome começado por “y”, como milhares, talvez milhões
em sua geração; daí o blog chamar-se “Geração Y”. Fiquei pensando que o
equivalente brasileiro seria talvez “Geração Éli”, ou “L”, tantas são as
micheli, gabrieli, adrieli, francieli e similares, algumas dobrando o “l” e
metendo também um “y” quando dá, tudo para tornar elegante e futuroso o nome,
na opinião de quem acha isso elegante e futuroso, é claro.
Estatística
que li certa vez dá conta de que o nome que mais aparece para homens no Rio
Grande do Sul, para os nascidos nos anos 50 e 60, é Luís – o que poderia ter
dado um “geração Luís”, se houvesse blogue naqueles tempos. Vindo ao mundo no
auspicioso ano de 1958 (bossa nova e primeira Copa do Mundo para o Brasil, por
exemplo), eu era menino quando a ditadura se instalou; cresci e comecei a me
dar conta do mundo na virada dos anos 60 para os 70, e na adolescência tive
minha chance histórica de militar contra a opressão política e as extremas
desigualdades sociais brasileiras. E foi legal, pode crer.
O
que é que foi legal? Algo parecido, em escala diversa, ao que acontece com
Yoani e com os jovens brasileiros que a apuparam: a escolha de um inimigo para
combater. Para a blogueira, é o regime de seu país; para os vaiadores, é ela,
que expõe as fragilidades de sua utopia política, que prevê censura, ao que se
percebe; para mim era a ditadura militar.
Ter
o que atacar, nos ardores da juventude, é ter ar para os pulmões; ter um
inimigo nítido ajuda muito mais. Como é isso para os atuais adolescentes? E
como será a coisa para a geração da minha Dora, com seus três anos recém-feitos,
e do meu Benjamim, que começou ontem seu primeiro ano escolar?
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