25
de fevereiro de 2013 | N° 17354
LUIZ
ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Três livros
Passam
os anos, passam as preferências do leitor. Um livro que nos encantou no passado
hoje é relegado a um canto da estante, perigosamente próximo do descarte. Como
dizia Terenciano, pro captu lectores habent sua fata libelli, isto é: segundo o
gosto do leitor, cada livro tem seu destino. Até aqui, nada de original.
O
que intriga é a persistência de alguns títulos. Teimam em perseguir nosso sono
e nossas lembranças e atravessam incólumes as décadas. Não apenas os
preservamos, como os promovemos a um lugar central da estante. Gostamos de
saber que estão lá. Mesmo que não os frequentemos, é confortador saber que
existem e que nos pertencem. Um desses é o clássico A Sangue Frio, de Truman
Capote. Há pessoas que os leram várias vezes, e a cada leitura descobrem coisas
novas.
Não
tinha nada de especial para eternizar-se, pois é, na essência, a narração de
quatro assassinatos cometidos na mesma ocasião por uma dupla de jovens. Enfim,
seria algo para ler e dizer ao final: está lido. Eis uma sentença fatal, pois
quando um livro não merece ser lido três vezes, não merece ser lido nenhuma
vez. Isso vale também para um filme. A questão está no gênio de Capote, que
transformou a história policial numa verdadeira tragédia grega.
Outro
livro que fica para sempre na estante é A Senhora Beate e seu Filho, de Arthur
Schnitzler, uma trama de amor e platônico incesto que termina de maneira
inesperada. É impossível não ser tocado pela obsessão de uma jovem mãe por seu
filho adolescente, capaz de fazê-la afrontar suas rivais até o ponto do
desespero e do embuste. Poucas novelas encontram essa força.
E
nesse caminho, ombreando com Schnitzler, está a pequena obra-prima A Fera na
Selva, de Henry James, talvez uma das mais perfeitas obras publicadas no
Ocidente. Nela, tudo faz sentido, tudo arrebata e apaixona. John Marcher e May
Bartram vivem um amor que não querem reconhecer que existe. Quando John se dá
conta de que esse amor sempre existiu, já é tarde, e a morte já dá seus
primeiros passos.
Eis
então três livros, três histórias que não saem da estante e de nossa alma. Por
si sós, justificam a existência da arte, e mais ainda: da literatura e da vida.
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