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sábado, 16 de fevereiro de 2013
A cura pela novidade
Estudo gaúcho identifica fator de tratamento do estresse pós-traumático
Apresentar uma novidade horas antes do início de uma sessão de terapia. Essa pode ser uma tática para a extinção da memória de medo ou de um trauma, segundo revelou uma pesquisa do Centro de Memória da PUCRS publicada no final do ano passado.
O estudo comprovou, por meio de testes em laboratório, que uma nova informação induz a síntese de proteínas no hipocampo, a região cerebral mais envolvida na formação de memórias, fixando o aprendizado – no caso, a extinção da memória de medo.
Publicado em 31 de dezembro na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), o artigo intitulado Behavioral Tagging of Extinction Learning (em português, marcação comportamental de aprendizagem da extinção) já teve mais de 4,5 mil acessos ou downloads até a última quinta-feira, o que mostra o impacto e relevância do tema em nível internacional.
A autora da pesquisa, Jociane Myskiw, criou um protocolo no qual a novidade é capaz de facilitar a formação da memória de extinção em ratos. Ela identificou que a introdução de uma novidade, duas horas antes da sessão de extinção (ou de terapia), foi capaz de influenciar, de forma positiva, na formação dessa memória.
Embora a pesquisa seja baseada em uma evidência já conhecida – a ideia de que uma novidade ajuda a esquecer um problema – essa é a primeira vez que o tema é comprovado cientificamente.
– Isso pode servir para acelerar a extinção de respostas do medo – destaca o neurocientista Iván Izquierdo, coautor da pesquisa.
No estudo, usa-se a extinção no tratamento do estresse pós-traumático. Submete-se o paciente a estímulos que remetem ao trauma, sem o motivo causador. O tratamento psíquico é a extinção do trauma, e consiste em fazer o indivíduo aprender a diferença entre o estímulo causador do medo e o fato em si.
O estudo levou cerca de dois anos para ser concluído e agora avançará para uma nova etapa, que consiste na análise farmacológica e comportamental dos ratos. Izquierdo explica que, por meio de cânulas colocadas no hipocampo cerebral dos animais, serão aplicadas drogas e testados os neurotransmissores envolvidos no processo de extinção do medo. Por enquanto, o teste em pacientes não será feito.
– Essa pesquisa será utilizada por profissionais com prática clínica e técnica, como psiquiatras ou psicólogos – afirma Jociane.
Além de Izquierdo e Jociane, o estudo tem participação de Fernando Benetti, bolsista de pós-doutorado no Centro de Memória. Todos os testes foram desenvolvidos na PUCRS e seguiram as normas do Comitê de Ética em Pesquisa e os direitos e cuidados com os animais foram respeitados, observam os cientistas.
lara.ely@zerohora.com.br
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