25
de fevereiro de 2013 | N° 17354
EDITORIAIS
ZH
CHEIRO DE AUTORITARISMO
As
manifestações agressivas contra a presença da blogueira cubana Yoani Sánchez no
país, a intromissão dos embaixadores da Venezuela e de Cuba em assuntos
estritamente brasileiros e o virulento ataque de lideranças do PT à imprensa no
recente encontro do partido são sinais claros, evidentes e preocupantes da
reativação de um radicalismo autoritário que parecia fazer parte do passado no
Brasil.
Pelo
jeito, estava apenas adormecido. Por conta da visão exacerbada desta militância
anacrônica e de seus representantes no parlamento, até mesmo uma entrevista da
dissidente cubana esteve para ser censurada na TV Senado, só indo ao ar por
interferência direta do senador Eduardo Suplicy, que vem dando exemplos de
sensatez e moderação em meio ao comportamento extremista de seus correligionários.
Se a
iniciativa de impor ideias e ideo- logias no grito e no constrangimento
partisse apenas de ativistas políticos, poderia ser creditada à normalidade
democrática. Num regime de liberdades, todos têm o direito de se manifestar.
O
preocupante é a constatação de que lideranças políticas do partido que está no
poder também comungam desse pensamento único, discricionário e excludente. Foi
o que se viu na reunião da cúpula petista na semana passada, em São Paulo, para
celebrar o aniversário da sigla e os 10 anos no comando do país.
O
evento marcou o lançamento da candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição,
mas também foi utilizado pelas principais lideranças da sigla para fustigar a
oposição e para ataques à imprensa, especialmente aos veículos de comunicação
que atuam com independência e criticam o governo.
Ao
eleger a “grande imprensa” como inimigo, a direção do Partido dos
Trabalhadores, respaldada pelo ex-presidente Lula, mostra dificuldade em
aceitar o pluralismo e a liberdade de expressão como elementos intrínsecos da
democracia.
No
ambiente de corporativismo partidário do encontro da última quarta-feira, que
contou inclusive com a presença de petistas condenados no processo do mensalão,
até mesmo a presidente Dilma Rousseff deixou de lado sua histórica posição de
apoio à liberdade de imprensa (“O único controle da mídia que eu proponho é o
controle remoto na mão do telespectador”) para se alinhar ao coro dos
insatisfeitos.
Esse
clima de patrulhamento, conjugado ao início antecipado da campanha eleitoral
para 2014, gera uma situação preocupante para o país, pois tende a legitimar as
ações de grupos radicais que não respeitam quem pensa diferente. No momento em
que o Brasil registra significativos avanços sociais e se prepara para encarar
os desafios do desenvolvimento, seria de todo indesejável um retrocesso nas
liberdades democráticas duramente conquistadas e defendidas pela maioria dos
brasileiros.
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