24
de fevereiro de 2013 | N° 17353
QUASE
PERFEITO | FABRÍCIO CARPINEJAR
Veterano da
despedida
“Estava
namorando há quase sete meses com uma mulher que não achamos tão fácil por aí.
Eu sou mais emotivo do que ela. Gosto de abraçar, beijar, ficar junto, porém
ela não é assim. Terminamos no final de semana. Na verdade, ela me deu um pé na
bunda por incompatibilidade de gênios. Queria que me ajudasse, pois agora ela
está pedindo pra voltar. Ela me magoou muito, e não gosto mais dela como antes.
Estou indeciso porque já tive outro relacionamento em que terminei com a minha
ex oito vezes. Foi um inferno, e eu não quero que isso se repita. Obrigado
desde já, Rafael”
Querido
Rafael,
Você
adora discutir o relacionamento, acredito que se sente valorizado na hora de
brigar (tanto quanto no sexo).
Toda
briga engrandece seu passe. Com uma discussão de relacionamento, temos o poder
de terminar ou reatar. Há uma adrenalina na gritaria, feita de reinícios,
reprises, acusações, defesas, beijos com gosto de lágrima e ecos intermináveis.
Julgar
o outro sempre é uma forma de se perdoar e se elogiar. Ela é fria, e, portanto,
você é quente. Ela não abraça, não beija muito, não se derrete, portanto, você
é que oferece afeto e não é reconhecido.
Entende?
Você é o certo, e, portanto, ela é errada. Você é o santo, e, portanto, ela é o
monstro insensível. O maniqueísmo destrói afetos.
Não
deve ser bem assim o romance. Precisamos dar um desconto, concorda?
A
cobrança é uma competição oculta. Fomenta uma rivalidade difícil de controlar.
Espera o erro dela para logo denunciar, ela espera sua denúncia para logo pedir
as contas, e assim os humores se esgotam com rapidez.
Você
terminou oito vezes seguidas com a ex. O que me sugere que o barraqueiro é
você, não a atual namorada. Não vem dizer que discute porque não tem saída, a
discussão é sempre a sua saída.
Por
algum motivo, carrega a suspeita de que ninguém é capaz de amá-lo sinceramente.
Talvez você se ache feio, ou com pouca experiência, ou em desvalia financeira.
A DR serve para testar o amor de sua companhia. As conversas sérias são
maneiras de examinar se ela realmente terá paciência para conviver e quais as
verdadeiras intenções. Abre um inquérito das últimas declarações com o claro
objetivo de desmascarar suas pretendentes.
Diz
que não gosta tanto dela como antes porque simplesmente frustrou seu plano,
desistiu de brigar e rompeu o namoro. Não tolerou o permanente ataque de nervos
por melhores condições e caiu fora. Você ficou falando sozinho.
Ela
não foi aprovada no grande concurso público de suportar suas ofensas até o fim.
Alguém suportaria?
É
impossível conviver com o inimigo. Mude de lado, por favor.
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