sábado, 16 de fevereiro de 2013



17 de fevereiro de 2013 | N° 17346PÁGINA 10 |
LETÍCIA DUARTE (Interina)

Costuras finais para a ERS-010

Depois de tantas idas e vindas na discussão sobre a ERS-010, o governo do Estado pretende finalmente anunciar, na primeira semana de março, a decisão sobre o modelo a ser adotado. Interlocutores palacianos garantem que, apesar das informações desencontradas ao longo do caminho, a negociação com a Odebrecht agora está bem encaminhada, em fase de definição de detalhes, para que a obra seja executada em modelo de parceria público-privada (PPP), com ajustes no projeto original.

Para superar o impasse na definição do projeto, a estratégia do Piratini foi retirar os intermediários da negociação – o que significou escantear os prefeitos do Conselho Deliberativo Metropolitano da discussão, liderados por Jairo Jorge – e tratar diretamente com a Odebrecht.

A empresa já teria concordado nos pontos fundamentais exigidos pelo governo – retirando cláusulas como a que responsabilizava o Estado por eventuais prejuízos caso o fluxo de veículos fosse menor do que o estimado pelo projeto.

Na versão do governo, seria equivocada a interpretação de que os novos estudos técnicos solicitados ao Daer representariam uma volta à estaca zero. Teriam sido pedidos ainda em novembro, quando o governo chegou a convocar uma entrevista coletiva para anunciar publicamente que abandonaria o projeto da Odebrecht, mas só encaminhados pelo Daer a partir de janeiro por atrasos na demanda interna – e seriam úteis para qualquer modelagem que venha a ser escolhida.

Nos bastidores, integrantes do Piratini admitem que o governo demorou em encaminhar a solução para a obra, mas já têm um discurso pronto para rebater as críticas de lentidão. Dizem agora que a maior responsabilidade pelo atraso seria do ex-secretário Beto Albuquerque (PSB) – não por acaso, em um momento em que Beto tem defendido o afastamento de seu partido do governo Tarso em 2014, a fim de garantir um palanque alternativo para Eduardo Campos à Presidência.

– Beto queria ou o projeto original, ou nada. E se opôs à tentativa do governo de trazer a EBP (Empresa Brasileira de Projetos) para fazer o projeto, o que atrasou quase um ano a discussão. Ele deixou uma herança negativa – diz uma figura influente no Piratini.

O clima eleitoral já paira no ar.

FAIXA PRETA NA PREFEITURA

Eleito aos 29 anos como prefeito mais jovem de Bento Gonçalves, por apenas 383 votos de diferença, Guilherme Pasin (PP) assumiu o poder com uma dupla missão. Além de ter de corresponder às expectativas dos eleitores no primeiro mandato de sua vida, enfrenta o desafio de colocar ordem em uma das situações mais dramáticas das contas públicas no Rio Grande do Sul.

Logo depois da eleição, auditorias revelaram que a dívida do município chegava a R$ 51,2 milhões, o equivalente a 20% do orçamento. Com ajuda de auditores do Tribunal de Contas do Estado, a prefeitura faz agora um pente-fino nas finanças para tentar colocar ordem na casa. Enquanto isso, o prefeito decretou a suspensão temporária no pagamento de todas as dívidas contraídas até o final de 2012.

A dedicação integral à nova missão obrigou o bacharel em Direito e ex-assessor do deputado Jerônimo Goergen a aliviar os treinos de jiu-jítsu, a arte marcial que pratica há 13 anos – e que lhe garantiu até uma medalha de bronze no campeonato brasileiro, em 2004. Mas os princípios do esporte continuam bem presentes em seu cotidiano: diz que é com ajuda da disciplina e da concentração aprendidas na luta que tem enfrentado o desafio na gestão.

– Eu aprendi a encarar os momentos mais difíceis com muita tranquilidade. É como no jiu-jítsu: tem de respirar, analisar e agir – compara, sorridente.

Com o fluxo de trabalho espichado das 7h15min às 23h nestes primeiros dois meses, Pasin ultimamente não tem parado nem para almoçar. Para enganar a fome, se alimenta com vitaminas de açaí e banana, café e chimarrão. Suspensa durante a campanha, a rotina de exercícios está sendo retomada aos poucos, em horários alternativos como domingos e feriados. Na terça-feira de Carnaval, a academia que frequenta abriu especialmente para lhe conceder a passagem para a faixa preta.

Ao trocar o tatame pelas contas públicas, a luta agora ficou mais difícil, mas o prefeito está empolgado.

– Os desafios são proporcionais às paixões – diz Pasin, que completou 30 anos em 27 de janeiro.
 
Indenização da Kiss

A Defensoria Pública Estadual pretende protocolar em 10 dias a ação coletiva pedindo indenização às famílias das vítimas da tragédia de Santa Maria. Já está definido que os proprietários da Kiss e a própria boate enquanto pessoa jurídica serão apontados como réus. Ainda está em estudo se outros agentes públicos serão incluídos como responsáveis.

Além da ação coletiva, a Defensoria encaminha ações individuais para acelerar providências como a liberação de veículos das vítimas e rescisões de contratos.

Salário vira doação

Enquanto a maioria dos políticos reivindica aumento salarial, o vereador Antônio Otacílio Lajús (PPS), de Horizontina, no noroeste do Estado, abriu mão do salário de legislador, cerca de R$ 3,5 mil líquidos. Ele passou a doar o valor para entidades do município. Lajús diz que tomou a decisão para dar o exemplo aos mais jovens.

– Ser vereador não é uma profissão, estamos na Câmara para fiscalizar. Posso trabalhar normalmente no dia a dia, pois aqui temos duas sessões ordinárias por mês e elas acontecem fora do horário comercial – justificou.

Prestes a assumir a coordenação da bancada gaúcha, nesta terça-feira, às 17h30min, o deputado Ronaldo Nogueira (PTB) definiu como uma de suas prioridades a luta pela liberação da emenda de R$ 20 milhões apresentada pela bancada em 2012 para programas de recuperação de estradas vicinais. O recurso interessa diretamente ao governo do Estado, que pediu empenho na articulação.

Para aumentar a interação com a população, Guilherme Pasin decidiu abrir o salão nobre da prefeitura todas as tardes de sexta-feira para atender diretamente os moradores: a partir das 14h, ouve todos os pedidos e, nas reuniões de segunda-feira com os secretários, encaminha as demandas, exigindo que deem uma resposta aos moradores em 48 horas.

ALIÁS

Apesar de atentos aos movimentos do PSB, integrantes do Piratini acreditam que a popularidade do governo Tarso às vésperas da eleição é que vai determinar as chances de reeleição, influenciando na formação das alianças em 2014.

Presídio Central

Além da ERS-010, o Piratini aposta em investimentos privados para destravar outros imbróglios de gestão. Entre eles, o Presídio Central.

A ideia do governo é delegar ao setor privado, por meio de “arrendamento de ativos”, a construção de três presídios com capacidade para 550 presos, com o objetivo de desafogar o Central. A expectativa é de que a licitação seja lançada neste ano.

Pelo modelo, a iniciativa privada construiria os prédios e os alugaria durante um período para o Estado para quitar o investimento. Vencida esta etapa, seriam incorporados ao patrimônio público.

Com obras complementares feitas pelo governo, a meta é encaminhar uma solução para o Central até 2014 – o que garantiria um feito para exibir na campanha à reeleição.

Novo Hospital

Outra obra que o governo planeja iniciar é a construção de um novo hospital na Região Metropolitana, com 400 leitos.

Já foi definido que será em Alvorada, no terreno às margens da ERS-118, que havia sido destinado à Dell.

A previsão é começar as obras em 2014.

A demissão das estagiárias do Senado que criticaram Renan Calheiros acabou revelando o quanto é disseminado o emprego de parentes em diferentes nichos do setor público: uma delas era sobrinha de Joaquim Barbosa, relator do mensalão e presidente do STF.

Colaborou Fernando Goettems

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