24
de fevereiro de 2013 | N° 17353
MARTHA
MEDEIROS
Afinados
Uma
vez, em uma conversa entre amigos, alguém comentou que jamais conseguiria casar
com quem ouvisse Celine Dion. Casar? Eu não conseguiria pegar uma carona com
alguém que ouvisse Celine Dion, retruquei, exagerando. E foi nesse tom de
brincadeira que continuamos falando sobre nossos eu nunca poderia me relacionar
com alguém que....
Puro
blábláblá, pois, na hora em que a paixão se apresenta, nossos gostos se adaptam
rapidinho, e a gente se pega dançando forró quando queria mesmo era estar num
show do Pearl Jam. Ainda assim, essa questão de ter afinidade musical não é absolutamente
tola. Gostar de gêneros musicais diferentes não impede um relacionamento, mas,
quando há compatibilidade, dois amantes evoluem e transformam-se em dois cúmplices.
Tudo
porque a música não é uma forma de ocupar o silêncio, simplesmente. Ela provoca
uma experiência física e sensorial. Ela vai buscar você onde você se esconde. E
compartilhar isso com quem amamos é roçar no sublime.
Se
aquilo que gosto de ouvir estimula as mesmas sensações em quem convive comigo,
cria-se um diálogo sem palavras, à prova de mal-entendidos. A música invade e
captura o que há de melhor em nós, nossa essência primeira, a que não foi
corrompida por racionalizações. E essa sensibilidade refinada, ao ser
despertada simultaneamente em um homem e em uma mulher (ou numa plateia
inteira, no caso de um espetáculo) gera uma comunhão tão rara quanto mágica.
Muitos
filmes já demonstraram como a música pode ser um fator de aproximação entre
casais. Para citar dois que concorrem ao Oscar neste domingo, no belíssimo
Amor, os protagonistas idosos não eram apaixonados apenas um pelo outro, mas
igualmente por música erudita, o que reforçava o laço.
Em O
Lado Bom da Vida, duas vítimas de perturbações psíquicas encontram uma forma de
serenizar sua ansiedade descontrolada através da dança, fazendo com que seus
corpos obedeçam a um ritmo, e sua alma também. A música facilita que
identifiquemos um “igual”, ou alguém razoavelmente parecido conosco. E ajuda a
fazer esse encontro perdurar.
Não
que tenha sido descoberta a fórmula do sucesso das relações – elas se desfazem,
mesmo quando há gostos afins.
Mas,
entre os momentos que ficarão na lembrança, estarão aqueles em que ambos sabiam
com certeza o que o outro estava sentindo quando conectados pela música, uma música
que, às vezes, nem estava sendo tocada, mas escutada por dentro, como na hora
exata do parto do filho, em que se ouve internamente uma orquestra, ou na hora
da decolagem de um voo, quando se ouve internamente uma ópera, ou durante o
primeiro beijo, quando se ouve internamente... sinos? Humm, eu escolheria uma
trilha sonora menos óbvia, mais inspiradora.
Coisa
mais triste quando, ao recordar um amor, a gente tenta lembrar: qual era a
nossa música? E não havia.
Um comentário:
Linguagem da musica, melodia,
letra. A musica é sem duvida "entrelaço"
"união". A presença fisica não importa. A musica ultrapassa oceano e se faz mt proximo quando ela personifica a outra pessoa. Isto é intimo,único.
Postar um comentário