KENNETH MAXWELL
'Black
sites'
O
Open Society Institute, estabelecido pelo investidor e filantropo George Soros
para "promover os direitos humanos e o governo democrático", agora
tem alcance mundial e acaba de publicar um relatório assustador sobre as
atividades secretas de detenção e extradição não judicial da Agência Central de
Inteligência (CIA), desde os ataques terroristas aos EUA em 11 de setembro de 2001.
O
relatório "Globalizing Torture" é um estudo detalhado e bem
documentado sobre aquilo que o ex-vice-presidente americano, Dick Cheney,
descreveu como "o lado escuro", no qual, como ele disse, "temos
de viver nas sombras do mundo da inteligência".
Depois
do 11 de Setembro, a CIA realizou detenções secretas, e terroristas foram
encarcerados em prisões da agência, conhecidas como "black sites",
fora dos EUA. Nelas, eram usadas as chamadas "técnicas amplificadas de
interrogatório", que envolviam tortura e outros abusos. A CIA também
recorria a extradições não judiciais a fim de transferir prisioneiros, sem
processo judicial, para prisão e interrogatório em outros países, bem como para
a penitenciária administrada pelo Departamento de Defesa americano em Guantánamo.
O presidente Teddy Roosevelt, em 1903, adquiriu a base naval de Guantánamo, em
Cuba, para os EUA, em caráter perpétuo.
O
relatório do Open Society identifica o envolvimento de 54 outros países, alguns
dos quais abrigaram prisões da CIA nas quais detentos foram interrogados e
torturados. O estudo oferece detalhes sobre 136 casos individuais.
Portugal
é um dos países mencionados, por ter permitido o uso de seu espaço aéreo e de
aeroportos para voos associados à CIA. Em 2007, um relatório do Parlamento
Europeu mencionava 91 escalas em Portugal, em viagens de e para Guantánamo.
Mas
Portugal não estava sozinho. E nem foi o pior caso. O "Washington Post"
publicou um mapa no qual todos os países envolvidos estão delineados em
vermelho.
Excetuada
a baía de Guantánamo, a América Latina é notável pela ausência. Greg Grandin,
professor de história na Universidade de Nova York, atribui o fato à amarga
experiência da América Latina depois do apoio da CIA ao golpe na Guatemala em 1952
e ao consórcio terrorista transnacional da Operação Condor, nos anos 70 e 80,
que fez da América Latina o protótipo para a guerra ao terrorismo que
Washington empreendeu no século 21.
Mas
também agiu como antídoto. Grandin diz que o governo Lula rejeitou "múltiplas"
solicitações de Washington para que o Brasil recebesse prisioneiros libertados
de Guantánamo. E aponta que Dilma Rousseff foi vítima de tortura pelo regime
militar do Brasil, nos anos 70.
KENNETH
MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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