16
de fevereiro de 2013 | N° 17345
NILSON
SOUZA
Outra Terra
Os
cientistas que espionam o espaço não param de nos surpreender. Agora, uma
astrônoma da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, revela a existência de
um planeta em tudo semelhante à Terra, situado a “apenas” 13 anos-luz de
distância. Um ano-luz equivale a 10 trilhões de quilômetros, mas não vamos nos
deixar abater por tão pouco. Nada que nossa imaginação supersônica não possa
percorrer em poucos minutos. Vamos nessa?
A
teoria da multiplicidade de mundos não é nova. E nem foi inventada por
escritores de ficção científica, mas por homens da ciência, físicos e
astrônomos. A tese é de que o Big Bang, a explosão inicial que gerou o nosso
universo conhecido, teria criado inúmeras galáxias em condições semelhantes à
nossa, com combinações dos ingredientes que resultaram nas amebas, nos
dinossauros, nos macacos e, finalmente, nos seres humanos – tudo no mesmo tempo
e nas mesmas circunstâncias.
A
conclusão é estonteante: existiriam clones de tudo o que conhecemos, incluindo
aquele cunhado enjoado que bebe demais e a Sabrina Sato. E o mais chocante:
gente como a gente, isto é, pessoas exatamente iguais a nós, a começar por
outro cronista sem assunto escrevendo sobre tal absurdo – e outro leitor igual
a você lendo isso. Tudo duplo, triplo, múltiplo até.
Não
dá vontade de parar por aqui?
Ainda
assim, vamos em frente. Imagine comigo que a nossa tribo terráquea desenvolveu
tecnologia suficiente para viajar até o tal planeta-espelho. E a Nasa resolveu
convidar um brasileiro para a viagem: você.
Aceitaria
embarcar nessa aventura? Gostaria de conhecer o seu clone, aquela pessoa que
faz tudo exatamente como você faz por aqui? Como neste momento de delírio a
decisão é de quem escreve, vamos supor que você tem toda essa coragem – e que
já está sentado numa nave em Cabo Canaveral, ouvindo a contagem regressiva, com
tradução simultânea para o português, pois os americanos andam fazendo de tudo
para nos agradar depois que passamos a gastar nossos reais valorizados em Miami.
Lá
vai você para o espaço, que nessa não embarco, mas continuo narrando a viagem
imaginária. Será que você vai se encontrar com o seu clone?
Pela
estapafúrdia teoria, não. Como ele repete lá no planeta dele tudo o que você
faz por aqui, também deve ter embarcado numa nave espacial para te procurar. Aí
é que a maluquice se complica. As naves se cruzarão pelo espaço? Quando ele
ingressar na órbita terrestre, não será você voltando? Que diferença fará se
vocês trocarem de lugar?
Dúvidas
demais. É por isso que, pretensiosamente, preferimos continuar pensando que
somos únicos, que estamos sozinhos no espaço. Eu, pelo menos, me recuso a
admitir que um outro cronista possa ter escrito um texto desses, a trilhões de
quilômetros daqui.
Outra
Terra, pois sim! Esta já tem gente demais.
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